O PAÍS
RELATIVO
País
por conhecer,
por escrever,
por ler...
*
País
engravatado todo o ano
e a assoar-se na gravata
por engano.
*
País
onde qualquer
palerma diz,
a afastar
do busílis o nariz:
-Não, não
é para mim este país!
mas
quem é que
bàquestica sem lavar
o sovaco que lhe dá o ar?
*
País
amador do rapapé,
do meter
butes e do parlapié,
que
se espaneja, cobertas as miúdas,
e as desleixa
quando já
ventrudas.
*
O incrível
país da minha
tia,
trémulo de bondade
e de aletria.
*
Moroso
país da surda
cólera,
de repente
que se quer
feliz.
*
A damisela passeia
no país
da alcateia,
tão
exterior a si
mesma
que
não é senão
a fome
com
que este
país a come.
*
País do eufemismo,
à morte dia a
dia
pergunta
mesureiro: - Como
vai a vida?
*
País
dos gigantones que passeiam
a importância
e o papelão,
inaugurando esguichos
no engonço
do gesto
e do chavão.
*
País
desconfiado a reolhar para
cima
dum ombro que, com razão duvida.
*
Este
país que
viaja a meu lado,
vai transido
mas transistorizado.
Nhurro país
que nunca
se desdiz.
Este
país, enquanto
se alivia,
manda-nos à mãe,
à irmã, à tia,
a nós
e à tirania,
sem
perder tempo nem caligrafia.
*
A Santa
Paciência, país,
a tua padroeira,
já
perde a paciência à nossa
cabeceira.
*
País
pobrete e nada alegrete,
baú
fechado com um
aloquete,
que
entre dois sudários não
contém senão
a triste
maçã do coração.
*
Que
Santa Sulipanta nos
conforte
na má vida,
país, na boa morte!
De ramona,
país, que
de viagens
tens, tão
contrafeito...
*
Embezerra, país,
que bem
mereces,
prepara,
no mutismo, teus
efes e teus
erres.
*
Desaninhada a perdiz,
não
a discutas, país!
Espirra-lhe a morte
pra cima
com
os dois canos
do nariz!
*
Um
país maluco
de andorinhas
tesourando as nossas cabecinhas
de enfermiços
meninos, roda-viva
em
que entrássemos de corpo
e alegria!
*
Estrela
trepa trepa pelo vento fagueiro
e ao país
que te
espreita, vê
lá se o vês
inteiro.
Hexágono
de papel que
o meu pai
pôs no ar,
já
o passo a meu
filho, cansado
de o olhar...
*
No sumapau seboso
da terceira,
contigo
viajei, ó país por
lavar,
aturei-te o arroto,
o pivete, a coceira,
a conversa
pancrácia e o jeito alvar.
Senhor
do meu nariz,
franzi-te a sobrancelha;
entornado de sono,
resvalaste para mim.
Mas
também me
ofereceste a cordial botelha,
empinada que
foi, tal e qual
clarim!
Alexandre O'Neill
(Feira Cabisbaixa
– 1965)
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