segunda-feira, 16 de setembro de 2019

A PROSA DO TERROR - Armando Silva Carvalho

A PROSA DO TERROR

O terror vai-se acumulando lá fora.
Ao princípio ele primava pela distância, via-se, ouvia-se, virtual.
Linhas em sangue vivo podiam circular pelas vizinhanças,
trocavam-se os idiomas por deus,
nasciam e morriam problemas, corriam pelas palavras da noite
os fantasmas do dia.
Mas tudo se ocultava por fim, negro e sem sol redimível,
numa espéciede armário humaníssimo
à prova do corpo a corpo.

Como se lança um dardo desportivo, assim foi a conversa
do poemae da vida.
Iam-se tomando medidas entre país e país,
discutiam-se as possíveis ciências do futuro, o desfrute mental
de possíveis refúgios,
as sempre consumíveis teorias sobre a paciência,
a brilhante ogiva teatral do mundo.

Agora já se observa o lixo armazenado,
as cabeças cheias e coloridas, as artes recicláveis
consoante os estilos de morte,
os braços nus e trabalhados numa pose de séculos,
a sempre apregoada, bendita mãe de todos os desastres,
a rotineira novela do petróleo,
os seios fictícios de Angelina Jolie, a nova namorada de Clooney,
tudo isso concentrado em trinta segundos.
E o degolar gargantas ou enviar mísseis como apertos de mão,
em gran finale.
Ah, ainda se vive tão bem
nesta velha europa.


1 comentário:

gipsofila disse...

Grande poeta, grande amigo, já se foi embora, tenho saudades.
Luís