Poema de 28
de Maio ao contrário
Gigante foi a luz que acesa se estendeu
por sobre as
trevas de um povo prisioneiro.
Ninguém esperava que no primeiro
impulso
de um movimento militar se abrissem
todas as janelas
e todas as portas. Mas abriram-se e
por elas a luz e
as vozes foram restituídas.
Todos agora, exército e povo, os
militares e os políticos, e
quantos nunca pensaram que a
política é coisa
de todos os dias ter de aprender-se
a ver, a falar
e a ouvir, lá onde na caverna
só sombras de fantasmas existiam.
Todos têm de aprender a governar e a
governar-se n’alma
e a fazer governo a liberdade e as
vozes e o
direito de existir-se à luz do dia
como gente viva num país que é ela.
Todos têm de aprender que a
liberdade não existe
apenas porque é dada, pois pode ser
tirada, ou
apenas porque é conquistada, pois
pode ser
licença em que não reste senão ela
perder-se. Têm de
aprender que não pode ter-se num só
dia
o que se perdeu em décadas. E que a
Justiça
é a Liberdade que pensa mais nos
outros que em si mesma.
Santa Bárbara, 28/5/1974
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