Balada dos Cãotribuintes
Somos nós os desventurados Os pobres contribuintes 
Obrigados a sofrer até ao fim dos tempos 
A sorte a que imper 
A que imperturbáveis 
Nos condenam os nossos go 
Todos os nossos governos 
Se meteres cem francos de gasolina 
Oitenta vão para o Estado 
Olha cheio de concupiscência 
Os Cadillac... Olha pra outro lado 
No teu dois cavalos de brincar 
Saltita ao longo dos caminhos 
É uma sorte poderes circular 
Amanhã vão-to proibir 
Taxa sobre o álcool e a cerveja 
Sobre os definitivos e os provisórios 
Sobre o triste celibatário 
Castigado por ser só um 
Controlam-te todos os passos 
Ah compraste um belo naco 
Tudo corre às mil maravilhas 
Paga guloso paga prò saco 
Refrão 
Numa bandeja o Estado dá-te 
Um prato... apanhas um desgosto 
Está vazio E tu admiras-te 
Mas é o prato do imposto 
Tu passeias pela vida 
De peito feito cheio impante 
Cuidado com o imposto sobre a energia 
É para ontem... ou mesmo antes 
Um belo dia sobre o oxigénio 
Ligar-te-ão o contador 
Tarifa simples o ar do Sena 
Tarifa dupla o ar da serra 
Eis porém que tu te fartas 
Preferes andar aos caídos 
Ou tornar-te engolidor de facas... 
Taxa de engolidor acrescentada 
Refrão 
Um remédio o casamento 
Dizes de súbito e corres 
A procura de uma rapariga séria 
Que saiba de amor e de comes 
Apressas-te e calculas 
Que ao fim de doze filhos o abono 
Do teu rendimento minúsculo 
Compensará a escassez 
Mas um inspector das Finanças 
Põe-se a badalar a ideia 
E pare... sem dor por minha fé 
Um texto cheio de veia 
Então a Câmara classifica-te 
Como garanhão de cobrimento 
Medem-te e tens a mais 
Pagas taxa sobre o comprimento 
Refrão 
Se pagasses para alguma coisa 
Sempre tinhas uma justificação 
Mas infeliz daquele que ousa 
Perguntar pr'onde vai o cifrão 
Temos estradas miseráveis 
Não há escolas mas padres 
Acabou o bom vinho há carrascão 
Mas fornecem-nos o puré 
O governo da França 
Republicano — ou que assim diz que é — 
Só um prato oferece com abastança 
O frango... pilim para o arroz 
E para evitar a falência 
Dos pobres vendedores de canhões 
Faz-se uma guerra do pé para a mão 
A guerra não se diz que não... 
Mas nós os pobres cães os pobres contribuintes 
Virá um dia em que de pau em punho 
Nos consolaremos a limpar o redil 
Onde os nossos seiscentos porcos estão maduros para o enchido 
Boris Vian, in "Canções e Poemas" 
Tradução de Irene Freire Nunes / Fernando Cabral Martins

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