Konstantinos Kaváfis
À ESPERA DOS BÁRBAROS
O que esperamos
na ágora reunidos?
         É que os bárbaros chegam
 hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam
 mais?
          É
que os bárbaros chegam
 hoje.
         
Que leis hão de fazer os senadores?
          Os
bárbaros que chegam
 as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
           
É que os bárbaros chegam
 hoje.
           
O nosso imperador conta saudar
            o
chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
            um pergaminho  no qual estão escritos
            muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam  togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos,
de ouro e prata finamente cravejados?
             
É que os bárbaros chegam
 hoje,
              tais coisas os
deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
              
É que os bárbaros chegam
 hoje
               e
aborrecem a rengas, eloquências.
Por que subitamente
esta inquietude?
(Que seriedade  nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam
 para casa
preocupados?
                
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
                
e gente recém-chegada das fronteiras
                 diz
que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
Konstantinos Kaváfis
trad. José Paulo Paes
Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1982

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