Elegia do cavador 
Deus do céu venha a meu rogo
Que a enxada já
mal se ferra:
Grita o sol dardos
de fogo
E eu ando farto
da terra! 
Há nuvens negras a prumo
sobre os meus ombros,
ó dor! 
São minha carne
a pôr fumo, 
São bagas do meu
suor. 
Vejo
daqui a subir 
Fumeiros da minha casa…
Outros que passam a rir
Custam-me
os nervos em
brasa. 
Serei eu escravo dum crime 
que a Deus fizesse algum homem? 
De corpo feito num
vime, 
Minhas lágrimas consomem. 
Deu-me Deus a vida cara, 
P´rás nuvens se vai meu
ganho:
Custam-me
os olhos da cara
Donas das terras que
amanho. 
Afonso Duarte
(1884-1958)

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