  
                       (desenho de Fernando Campos) 
  ARS 
   
  Os muros brancos da indiferença 
  desafiam os pintores 
  a pintar neles a esperança 
   
  amarelos sóis girando 
  roxos violetas azuis 
  gente animais árvores flores 
  como há e não há inventados 
  largas janelas abertas 
   
  para a vida e para o sonho 
  vermelhos entusiasmos 
  castanhos terra serenos 
  verdes e verdes terrenos 
  de horizontes rasgados 
   
  onde caibam os países 
  e os continentes e os mares ainda por descobrir 
  e o homem caiba inteiro 
  na verdadeira grandeza 
  em profundas perspetivas 
   
  tudo o que é grande e pequeno 
  dos outros o que a nós pertence 
  de nós o que a todos damos 
  a noite intensa povoada de sóis 
  que outros dias iluminam 
   
  a esperança neles pintada 
   
  a Paz o Pão o Amor. 
   
  E nas mansardas escuras 
  com os brancos muros em frente 
  da gelada indiferença 
  os artistas febris 
  esboçam em traços difusos 
  a própria morte do sonho. 
   
  Mas já na sombra da sombra 
  que sobre os brancos muros se estende 
  O coro das carpideiras 
  tece flores de retórica 
  para coroar-lhes as caveiras 
  e os conservadores misantropos 
  dos museus do que já foi 
  fazem o espólio das artes 
  com requintes de molduras. 
   
  Nos muros brancos da indiferença 
  gela o frio esquecimento…
  
  Joaquim Namorado 
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