4 POEMAS DE DESILUSÃO E DE REVOLTA
I
Outra vez este desapego de tudo.
Outra vez
este olhar indiferente para tudo:
não encontrar na vida uma razão de
viver.
Triste
encosto-me na janela
e olho a natureza livre.
Talvez valesse a pena ser árvore…
Talvez valesse a pena ser cão.
Tudo 
menos andar amarrado uma vida inteira
 aos preconceitos inúteis 
duma civilização caduca.
II
Isto 
de ser o que se não é,
 de andar sempre a mentir
 (quantas vezes a nós próprios!) 
tiranizados, 
forçados, 
chegando mesmo a esquecer, 
por vezes, 
que somos bois debaixo de uma canga: 
Isto, juro-vos, 
ainda há de acabar.
III
Porquê 
a expiação 
de um mal que não cometemos? 
Porquê 
arrastar sempre a grilheta 
de um crime que nunca foi? 
Porquê? 
andar conformado, submisso, 
dando a desculpa a si próprio 
da explicação de tudo
 numa história, aliás bela, 
mas estranha, 
de serpentes e maçãs…
                   IV
Afinal a vida
é este roer de cardos velhos,
é este deitar-se na palha podre,
é este andar aos tombos pelas ruas:
ver os outros a rir e a chorar
-- e chorar também
para que os outros riam,
  
e rir também
para que os outros chorem.
A vida é isto,
e não o que eu sonhei.
Raios partam a vida
tal como ela é.
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