terça-feira, 13 de maio de 2025

Senso comum - William Eaton

 

Senso comum*

 

Ela não lhe ocorria que ele era

Um socialista

E ele - embora pudesse - não tinha carro

Nunca apanhava um táxi

Havia tantas coisas que

Ele não entendia

Era a necessidade reduzir os impostos e os encargos laborais

Eliminar toda a regulamentação ambiental que fazia mais mal que bem

Em que realmente acreditava?

Ele nunca tinha assistido a um podcast!

Antes que ele a despisse

Ela fê-lo apagar a luz.

 

William Eaton

*O título em inglês "Common sense" - a sensação que tenho, é que para a classe comercial americana, esta frase se tornou uma frase de código. Pode traduzir-se: quero pagar menos impostos e salários mais baixos e não ter a atividade financeira prejudicada por qualquer necessidade de proteger o ambiente ou a saúde humana.

English

Common sense

She couldn’t get over that he was

A socialist

And he – although he could afford one – he had no car

Never took a taxi

There were so many things

He didn’t understand

The need to cut taxes and the ever-rising cost of labor

The need to eliminate all the environmental regulations that did more harm than good

What did he really believe in?

He’d never watched a podcast!

Before he took her clothes off

She made him turn off the lights.

Français

Du bon sens

Elle n’en revenait pas qu’il était

Socialiste

Il avait les moyens d’en acheter une, mais il était sans voiture

Ne prenait jamais de taxi

Il y avait tant de choses que lui

Il ne comprenait pas

Qu’il fallait réduire des impôts et les charges patronales

Éliminer toutes les réglementations environnementales qui faisaient plus de mal que de bien

En quoi croyait-il vraiment ?

Il n’avait jamais regardé un podcast !

Avant qu’il ne la déshabille

Elle l’a obligé à éteindre la lumière.

Español

¿Un poco de sentido común?

Ella no podía superar que era

socialista

Aunque podía permitirse uno, no tenía coche

Nunca cogía taxis

Había tantas cosas que él

No entendía

Que había que reducir los impuestos y el coste laboral

Eliminar todas las normativas medioambientales que hacían más mal que bien

¿En qué creía él realmente?

¡Nunca había visto un podcast!

Antes de que él la desnudara

Ella le hizo apagar las luces.


— Poem(s) and photograph by 
William Eaton

 

sábado, 10 de maio de 2025

Perfeição - Renato Russo

 

Perfeição

1
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país com sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa política e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar
Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade

2
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã

3
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
( A lágrima é verdadeira )
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão

4
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção

5
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que tem é perfeição

Renato Russo

sexta-feira, 9 de maio de 2025

5 PROSAS - Armando Silva Carvalho


5 PROSAS

ao Jorge Dias Deus

I

Vêm os homens com seu trabalho apenso

destros finitos

e coração loquaz

os homens passam rente

calam a boca aos livros

raspam a chuva com dedos pacientes

 

abalam a madeira destas leis

perfuram o silêncio

conversam entre as folhas de uma ideia

tocam nos caules frios aliviando

são mais que simples

usam os gestos de uma chávena

contam o dinheiro as trocas

a fadiga

 

olho estes homens com a

pele no cimento que estão

estendendo a luta como uma passadeira

 

batem na terra dura

que cobre a alegria. Ouço-lhe

o sangue e ergo o rosto

que já se transfigura.

 

Aperto o passo onde vejo sinais

gotas de vinho vivo um sexo

uma revolta. E mais

 

atiro o grito aos homens

para que não fique surdo:

aonde sou capaz.

Armando Silva Carvalho

 

sábado, 3 de maio de 2025

AO REVOLUCIONÁRIO VASCO GONÇALVES - Gastão Cruz

 

03-05-1921  -  11-06-2005

AO REVOLUCIONÁRIO VASCO GONÇALVES

Queria usar a língua em que escrevi
os versos mudos da poesia lírica
para o discurso prático
da revolução escrita.

Ninguém já entendia o vapor grave
e gasto da linguagem.
Durante a desejámos, canto enquanto
desejo, com o gasto
movimento dos versos. Quem entende
a voz da sua boca equivocada?

Desconheço o silêncio. Conheci-o
com o entendimento de quem vive.

Por isso este poema não é épico,
é um simples
poema em quadras íntimas:
um revolucionário
não cabe na política
mas cabe
nos metros úteis da poesia escrita.


Gastão Cruz

 


sexta-feira, 2 de maio de 2025

La Crosse En L'air partie 1 e 2 Jacques Prévert / Serge Reggiani

Um grande poeta e um extraordinário diseur num trabalho perfeito
(2)»   https://youtu.be/dpgmHuqVwR4?si=ds-ii8-ob7dGXJMe

quinta-feira, 1 de maio de 2025

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO - Vinicius de Moraes

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO


     E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe
     num momento de tempo todos os reinos do mundo.
     E disse-lhe o Diabo:
     — Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque
     a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto,
     se tu me adorares, tudo será teu.
     E Jesus, respondendo, disse-lhe:
     — Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás
     o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
     Lucas, cap. IV, versículos 5-8


Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
— Exercer a profissão —
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
— “Convençam-no” do contrário —
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
— Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

— Loucura! — gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
— Mentira! — disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Vinicius de Moraes


domingo, 27 de abril de 2025

Meu maio - Vladimir Maiakovski

Meu maio


A todos
Que saíram às ruas


De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês – Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

Vladimir Maiakovski

quinta-feira, 24 de abril de 2025

ESCULTOR O TEMPO - Manuel Veiga

 

ESCULTOR O TEMPO

 

Escultor de paisagens o tempo.

E estes rostos, onde me revejo.

E as mãos, arado.

E os punhos. E luta erguida…

Sons de fábricas que morrem

Perdidas na voragem dos dias

 

Infecundos. E do lucro

Sem fronteiras.

 

E, no entanto, esta torrente

E esta fonte que desce em cascata de palavras

Verbo que se faz carne. E ferve

No peito a latejar

Rubros cravos

E bandeiras..

 

Nada é definitivo quando a rocha

Se abre ao fogo. Nem a Revolução é um feito

Inacabado. Mas antes um horizonte aberto

A oferecer-se em cada tempo…

Sonho sempre novo

Em cada gesto

Logrado…

 

Qual poema sinfónico

A arder por dentro. Passo a passo

Numa cadência sem idade…

E este aguilhão e este alvoroço

E o rosto magoado deste Povo

A prescrever um tempo novo

Letra a letra

Liberdade.

 

Viva o 25 de Abril...

 

Manuel Veiga

 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

"Da voz entre muralhas" - Carlos Maria de Araújo

 

"Da voz entre muralhas"

 

O osso descarnado

a água escassa

e estes ferros

nos pés

e estes ferros

 

Este rio de suor

a dor inteira

e esta noite

de granito

e esta noite

 

Este chicote

rasgando-nos a boca

mas nunca o grito

companheiro

até quando

companheiro

Carlos Maria de Araújo

Araújo, 1960 p.42-3

Carlos Maria de Araújo segundo Jorge de Sena
   [...]
   A sua obra muito breve é por certo das mais notáveis da poesia portuguesa que o desconhece ainda [...]; e pode considerar-se representada pelos dois livros que publicou pouco antes de morrer. Poesia extremamente despojada e densa, de uma intensa severidade formal e de vigorosa emoção contida numa expressão lapidar, é bem a de um oficiante das trevas, dessas trevas que tão terrivelmente cobrem a vida e o mundo. Nos seus ritmos curtos e sincopados, sob os quais todavia flui oculta uma simplicidade quase sentimental, esta poesia significa, como poucas das recentes, uma fulgurante definição do exílio português, no que ele tem de amargo e de frustrado, como no que, nele, resiste a tudo e mesmo ao medo que o verso tenha de sê-lo na boca do poeta, qual este disse num dos seus mais belos poemas.

 

quarta-feira, 16 de abril de 2025

IGNAZIO BUTTITTA - Não me deixes só

Non mi lasciare solo

Não me deixes só

Ouve-me, falo-te esta noite

 e parece-me falar ao mundo.

 

 Quero dizer-te que não me deixes só

 nesta estrada longa sem fim

e tem os dias curtos.

 

Quero dizer-te

que quatro olhos vêem melhor,

que milhões de olhos vendo mais longe,

 e que o peso dividido sobre os ombros torna-se leve.

 

Quero dizer-te

que se te apoiares em mim e eu me apoiar a ti

 não podemos cair

mesmo que a tempestade nos siga em rajadas.

 

Os pássaros voam em bandos, cantam em bandos,

um canto só é lamento e morre no ar.      

 

Não abaixes os olhos, quero-te amigo á mesa;

e não é verdade, que sejamos diferentes

estendo-te os braços e chamo-te de irmão...

 

Irmão eu sou e companheiro

 dobrado para arrancar os espinhos que ensanguentam os pés:

 irmão e companheiro levantados para rasgar as nuvens

e apagar o relâmpago:

 irmão e companheiro

 

Um não conta,

nascemos para cantar juntos

e não deixar um legado de lágrimas repito de lágrimas.

 

morres e ficas nadando

no leito do rio que desagua no mar,

na cama que conta a história de todos os tempos

 

E serão dias como estes: com nascer e sol

os galos que cantam, as árvores que florescem,

homens na terra e biliões de estrelas no céu.

 

Dias assim: com a luz nas ruas,

as mesas postas, as crianças brincando,

 e o amor nas camas com boca de cordeiro e de lobo.

 

Dias assim: contigo e comigo

com outros nomes para consultar livros,

experimentar, julgar os vivos e os mortos

se eles merecem... se nós merecemos o perdão...

 

 

Perdão pelas guerras em cadeia, pelos massacres

para Hiroxima queimada,

para os poetas de tiro.

 

Perdão para as câmaras de gás

pela injustiça codificada,

para os infames iluminados no paraíso da terra,

para Cristo na cruz e o carrasco no altar.

 

Estou-me confessando

Quem me absolve?

Quem te absolve?

 

História não,

se pudermos fazer a paz da guerra,

chorando alegria,

liberdade escravidão,

odeio amor

e não o fazemos.

 

Na história, não

Se pudermos derrubar as paredes de pedra óssea

que levantamos todos os dias com as mãos sujas,

tu e eu, com as mãos sujas, e não o fazemos.

IGNAZIO BUTTITTA


Non mi lasciare solo
Ascoltami, parlo a te stasera
e mi pare di parlare al mondo.

Ti voglio dire di non lasciarmi solo
in questa strada lunga che non fìnisce mai
e ha i giorni corti.

Ti voglio dire
che quattro occhi vedono meglio,
che milioni d'occhi vedono píú lontano,
e che il peso diviso sulle spalle diventa leggero.

Ti voglio dire
che se t’appoggi a me e io mi appoggio a te
non possiamo cadere
nemmeno se la bufera c'insegue a ventate.

Gli uccelli volano a stormo, cantano a stormo,
un canto solo è lamento e muore nell'aria

Non abbassare gli occhi, ti voglio amico a tavola;
e non è vero mai che sei diverso da me
che allungo le braccia ti chiamo fratello.

Fratello ti sono e compagno
curvato a strappare le spine che insanguinano i piedi:
fratello e compagno alzato a lacerare le nuvole
a spegnere i lampi:
fratello e compagno
se scoppiano i tuoni e trema la terra,
se spunta il sole e l'abbraccia

Uno non fa numero,
siamo nati per cantare assieme
e non per lasciare eredità di lacrime repítío di lamenti.

Si muore e si resta a nuotare
sul letto del fiume che scivola a mare,
sul letto che racconta la storia di sempre

E saranno giorni come questi: con l'alba e il sole
i galli che cantano gli alberi che fioriscono,
gli uomini in terra e miliardi di stelle nel cielo.

Giorni come questi: con la luce nelle strade
le tavole imbandite, i bambini che giocano,
e l'amore nei letti con la bocca di agnello e di lupo.

Giorni come questi: con te e con me
chiamati con altri nomi a consultare libri,
a sperimentare, a giudicare i vivi e i morti
se meritano…se meritiamo perdono.

Perdono per le guerre a catena, per le stragi
per Híroshima bruciata,
per i poeti fucilati.

Perdono per le camere a gas
per l'ingiustizia codificata,
per l'infemo acceso nel paradiso della terra,
per Cristo in croce e il boia all'altare.

Mi sto confessando
Chi mi assolve?
Chi ti assolve?

La storia no,
se possiamo fare la guerra pace,
il pianto gioia,
la schiavítú libertà,
l'odio amore
e non lo facciamo.

A storia no
Se possiamo abbattere i muri di pietra d'ossa
che innalziamo ogni giorno con le mani lorde,
tu e io, con le mani lorde, e non lo facciamo .


da - pensierisinistri.ilcanno
cchiale.i