domingo, 23 de março de 2025

Fénix - Paulo Colina

Fénix

 

Basta!

Chega de tentar nos induzir,

de tentar nos enganar,

de querer nos conduzir,

nos separar;

já não há por que mentir

nem mais razão para esconder

esse sorriso atravessado

de escárnio

em nossas costas esses dentes,

essas presas sempre prontas,

prontas para esfolar.


Nada há de novo sob o sol;

nada além de umas carcaças,

secos Fénix de uma raça

que suposta oprimida,

feito um sonho e pesadelo,

bem um sonho e pesadelo,

renasce para gritar.


Desde que os servos

vindos da noite

não ameacem o reinado,

senhor,

há uma grande união;

desde que os servos

vindos da noite

não disputem seu pão,

meu senhor,

há uma grande união.


Paulo Colina

 

sábado, 22 de março de 2025

Semântica Electrónica - Vitorino Nemésio

Semântica Electrónica

Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim – o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
– Mas – diz-me a ordenança –
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!

Vitorino Nemésio

(LIMITE DE IDADE, 1972)

sexta-feira, 21 de março de 2025

A Hard Rain's A Gonna Fall - Bob Dylan

 

A Hard Rain's A-Gonna Fall 

Bob Dylan

Oh, where have you been, my blue-eyed son?
Oh, where have you been, my darling young one?
I've stumbled on the side of twelve misty mountains
I've walked and I've crawled on six crooked highways
I've stepped in the middle of seven sad forests
I've been out in front of a dozen dead oceans
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, and it's a hard
And it's a hard rain's gonna fall

Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it
I saw a black branch with blood that kept drippin'
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin'
I saw a white ladder all covered with water
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken
I saw guns and sharp swords in the hands of young children
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard
And it's a hard rain's gonna fall

And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin'
Heard the roar of a wave that could drown the whole world
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin'
Heard ten thousand whisperin' and nobody listenin'
Heard one person starve, I heard many people laughin'
Heard the song of a poet who died in the gutter
Heard the sound of a clown who cried in the alley
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard
And it's a hard rain's gonna fall

Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony
I met a white man who walked a black dog
I met a young woman whose body was burning
I met a young girl, she gave me a rainbow
I met one man who was wounded in love
I met another man who was wounded with hatred
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard
It's a hard rain's gonna fall

Oh, what'll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what'll you do now, my darling young one?
I'm a-goin' back out 'fore the rain starts a-fallin'
I'll walk to the depths of the deepest dark forest
Where the people are many and their hands are all empty
Where the pellets of poison are flooding their waters
Where the home in the valley meets the damp dirty prison
Where the executioner's face is always well hidden
Where hunger is ugly, where souls are forgotten
Where black is the color, where none is the number
And I'll tell it and speak it and think it and breathe it
And reflect it from the mountain so all souls can see it
Then I'll stand on the ocean until I start sinkin'
But I'll know my song well before I start singin'
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard
It's a hard rain's gonna fall

 

Uma Chuva Forte Vai Cair

Oh, onde você esteve meu filho de olhos azuis?

Oh, onde você esteve, meu jovem querido?

Tropecei ao lado de doze montanhas nebulosas

Eu andei e engatinhei em seis estradas tortuosas

 

Eu pisei no meio de sete florestas tristonhas

Entrei e saí da frente de uma dúzia de oceanos mortos

Estive dez mil milhas

Na boca de uma sepultura

E é uma forte, é uma forte

É uma forte, e é uma forte

E é uma forte chuva que vai cair

 

Oh, o que você viu, meu filho de olhos azuis?

Oh, o que você viu, meu jovem querido?

Eu vi um bebê recém-nascido

Com lobos selvagens lhe rondando

Eu vi uma estrada de diamantes sem ninguém sobre ela

Eu vi um galho negro com sangue que pingava

Eu vi um quarto cheio de homens

Com seus martelos sangrando

Eu vi uma escada branca toda coberta de água

Eu vi dez mil oradores

Cujas línguas estavam dilaceradas

Eu vi armas e espadas afiadas

Nas mãos de crianças pequenas

E é uma forte, é uma forte, é uma forte, é uma forte

E é uma forte chuva que vai cair

 

E o que foi que você ouviu meu filho de olhos azuis?

E o que foi que você ouviu meu jovem querido?

Eu ouvi o som do trovão

E seu estrondo era um aviso

Ouvi o ronco de uma onda

Que poderia afogar o mundo inteiro

Ouvi mil bateristas

Cujas mãos estavam em brasa

Ouvi dez mil sussurrando e ninguém estava ouvindo

Ouvi uma pessoa morrer de fome

Ouvi muitos rindo

Ouvi a canção de um poeta que morreu na sarjeta

Ouvi o som de um palhaço que chorava no beco

E é uma forte, é uma forte

É uma forte, e é uma forte

E é uma forte chuva que vai cair

 

Oh, quem você encontrou meu filho de olhos azuis?

Quem foi que você encontrou meu jovem querido?

Eu encontrei uma criança jovem ao lado de um potro morto

Encontrei um homem branco

Que passeava com um cachorro preto

Encontrei uma jovem mulher cujo corpo estava queimando

Eu encontrei uma jovem menina, ela me deu um arco-íris

Eu encontrei um homem que estava ferido no amor

Eu encontrei um outro homem que estava ferido em ódio

E é uma forte, é uma forte

É uma forte, e é uma forte

E é uma forte chuva que vai cair

 

Oh, o que farás agora, meu filho de olhos azuis?

Oh, o que farás agora, meu jovem querido?

Vou voltar lá pra fora antes que a chuva comece a cair

Vou andar até as profundezas da mais negra floresta

Onde o povo é tamanho

E suas mãos são vazias

Onde as cápsulas de veneno estão afogando suas águas

Onde o lar no vale

Encontra a prisão úmida e suja

Onde o rosto do executor está sempre bem escondido

Onde a fome é feia, onde as almas são esquecidas

Onde preto é a cor, onde nada é o número

E eu posso contá-lo e pensá-lo e dize-lo e respirá-lo

E refleti-lo das montanhas

Para que todas as almas possam vê-lo

Então ficarei em pé sobre o oceano até começar a afundar

Mas conhecerei minha canção antes de começar a cantá-la

E é uma forte, é uma forte, é uma forte, e é uma forte

E é uma forte chuva que vai cair

 


domingo, 16 de março de 2025

Camilo Castelo Branco - Portugal Contemporâneo

XXII
Portugal Contemporâneo

Não se olvidem jamais os casos sérios,
E as épicas façanhas dos Archotes!
Ó Musa da calúnia, não me contes,
D'esta lusa Calábria altos mistérios.

Fulminavam-se outr'ora os ministérios,
Porque tinham ladrões; depois, o Fontes,
Rasgando á pátria novos horisontes,
Exterminou os Verres deletérios.

Sumiram-se os fatais homens sinistros!
Já não são sacerdotes os ministros
Do vil bezerro d'ouro, ou da bezerra.

No tocante a ladroes, não há nenhum;
Já não se encontram três, nem dois, nem um...
No pinhal da Azambuja e na Falperra.

Camilo Castelo Branco

 

quinta-feira, 13 de março de 2025

Poema Estou Cansado - Álvaro de Campos

Poema Estou Cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto –
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospetivo…
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa

Álvaro de Campos

terça-feira, 11 de março de 2025

Morte à orelha de Van Gogh! - Allen Ginsberg

 

Morte à orelha de Van Gogh!

O POETA é Profeta
o Dinheiro contabilizou a alma da América
o Congresso foi trilhado até ao precipício da Eternidade
o Presidente construiu uma máquina de Guerra para vomitar e obrigar a Rússia a sair
         do Kansas
O Século Americano foi traído por um Senado louco que já não dorme com a mulher
Franco assassinou Lorca o filho maricas de Whitman
tal como Maiakóvski se suicidou para escapar à Rússia
Hart Crane distinto Platonista suicidou-se para desabar a América errada
tal como milhares de toneladas de centeio humano foram queimados em cavernas
           secretas por baixo da Casa Branca
enquanto a Índia morria à fome e gritava e comia cães raivosos cheios de chuva
e montanhas de ovos eram reduzidas a pó branco nas câmaras do Congresso
nenhum homem temente a deus passará por lá outra vez com aquele fedor a ovos
          podres da América
e os Índios de Chiapas continuam a mastigar as tortilhas sem vitaminas
os aborígenes da Austrália talvez gaguejem na selva sem ovos
e eu que raramente como um ovo ao pequeno-almoço embora o meu trabalho
         requeira ovos infinitos para que possa vir à luz na Eternidade
os ovos devem ser comidos ou oferecidos às mães
e o sofrimento das inúmeras galinhas da América é expresso pelos gritos dos
          comediantes na rádio
Detroit construiu um milhão de automóveis com árvores de borracha e fantasmas
mas eu caminho, eu caminho, e o Oriente caminha comigo, e toda a África caminha e
          mais cedo ou mais tarde a América do Norte caminhará
pois tal como escorraçamos o Anjo chinês da nossa porta ele virá para nos escorraçar
da Porta Dourada do futuro
nós não compartilhámos pena por Tanganyika
Em vida Einstein foi gozado pela sua política celestial
Bertrand Russel foi escorraçado de Nova Iorque por ter sido possuído
o imortal Chaplin foi escorraçado da nossa costa com uma rosa nos dentes
uma conspiração secreta orquestrada pela Igreja Católica nos lavabos do Congresso
recusou contracetivos às massas incansáveis da Índia.
Ninguém publica uma palavra que não seja o delírio autómata e cobarde de uma
mentalidade depravada
O dia da publicação da verdadeira literatura do corpo americano será dia da
Revolução
a revolução do cordeiro sensual
a única revolução sem sangue que distribui milho de graça
o pobre Genet iluminará os ceifeiros do Ohio
A marijuana é um narcótico benevolente mas J. Edgar Hoover prefere o seu whisky
mortífero
E a heroína de Lao-Tsé & do Sexto Patriarca é punida com a cadeira elétrica
mas os pobres junkies doentes não têm onde deitar a cabeça
gatunos no nosso governo inventaram uma cura a sangue frio para o vício tão
obsoleta como o Sistema de Defesa por Radar de Alerta Antecipado
Eu sou o sistema de defesa por radar de alerta antecipado
Não vejo outra coisa senão bombas
Não estou interessado em impedir a Ásia de ser Ásia
e os governos da Rússia e da Ásia irão erguer-se e cair mas a Ásia e a Rússia não
cairão
o governo da América também cairá mas como poderá a América cair
duvido que alguém mais caia a não ser os governos
felizmente todos os governos vão cair
os únicos que não vão cair são os bons
e os bons ainda não existem
Mas têm que começar a existir eles existem nos meus poemas
existem na morte dos governos russos e americanos
existem na morte de Hart Crane e Maiakóvski
Agora é tempo de profecia sem que a morte seja uma consequência
o universo acabará por desaparecer
Hollywood vai apodrecer sobre os moinhos de vento da Eternidade
Hollywood com os filmes entalados na garganta de Deus
Sim Hollywood terá o que merece
Tempo
Infiltração de gás de nervos pela rádio
A história tornará este poema profético e fará da sua parvoíce assombrosa uma
música espiritual medonha
Eu tenho o lamento das pombas e a pluma do êxtase
o Homem não pode aguentar muito tempo a fome do canibal abstracto
A guerra é abstracta
o mundo será destruído
mas morrerei apenas pela poesia, isso salvará o mundo
o monumento a Sacco & Vanzetti ainda não foi financiado para enobrecer Boston
os nativos do Quénia atormentados por aldrabões idiotas de Inglaterra
a África do Sul nas garras do branco tolo
Vachel Lindsay Ministro da Administração Interna
Poe Ministro da Imaginação
Pound Min. da Economia
e Kra pertence a Kra, e Pukti a Pukti
fertilização cruzada de Blok e Artaud
a Orelha de Van Gogh na moeda
chega de propaganda a monstros
e os poetas devem afastar-se da política ou transformar-se em monstros
tornei-me monstro pela política
o poeta russo é sem dúvida monstruoso no seu bloco de notas secreto
os poetas russos farão frente à Rússia
o Tibete devia ser deixado em paz
Estas são profecias óbvias
a América será destruída
Whitman avisou-nos sobre esta «nação condenada ao Fracasso»
Onde estava Theodore Roosevelt quando enviou ultimatos do seu castelo em
Camden
Onde estava a Câmara dos Representantes quando Crane leu em voz alta os seus
livros proféticos
Onde estava Wall Street a maquinar quando Lindsay anunciou o apocalipse do
Dinheiro
Estariam a ouvir o meu delírio nos balneários dos Centros de Emprego do Bickfords?
Será que inclinaram os ouvidos para escutar os gemidos da minha alma quando eu
me via a braços com estatísticas de marketing no Forum em Roma?
Não eles lutavam em gabinetes inflamados, em tapetes de insuficiência cardíaca, e
gritavam e regateavam com o destino
enfrentavam o Esqueleto com sabres, mosquetes, dentes tortos, indigestão, bombas
de furto, impérios de prostituição, foguetões, pederastia,
de costas para o muro para erguerem as suas mulheres e os seus apartamentos,
relvados, subúrbios, impérios de maricas,
Porto-Riquenhos amontoados para o massacre na Rua 114 só por causa de uma
imitação do frigorífico Chinês-Moderno
Elefantes de misericórdia assassinados só por causa de uma gaiola isabelina
Milhões de fanáticos frenéticos no manicómio por causa do soprano estridente da
indústria
Cânticos ao dinheiro dos ensaboadores
¾ macacos de pasta dentífrica nos televisores
¾ desodorizantes sobre cadeiras hipnóticas ¾
traficantes de petróleo no Texas
¾ rastos de aviões a jacto por entre as nuvens ¾
escritores a jacto mentem na cara da Divindade
¾ carniceiros de sapatos e chapéus,
com presas, todos Patrões! Patrões! obcecados pela propriedade e pelo
Individualismo em extinção!
e os longos editoriais sobre a esgrima do negro aos gritos atacado por formigas
rastejaram pela primeira página fora!
Maquinaria de um colossal sonho eléctrico! Uma Puta da Babilónia criadora de
guerras a bramir sobre os Capitólios e Academias!
Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! louco e celestial dinheiro da ilusão a gritar! Dinheiro
feito de nada, de fome, de suicídio! Dinheiro do fracasso! Dinheiro da morte!
Dinheiro contra a Eternidade! e as fábricas poderosas da eternidade trituram a imensa
folha da Ilusão!

Allen Ginsberg
Tradução e prefácio
de Paula Ramalho Almeida e Joana Matos Frias

Paris, Dezembro de 1957

Poet is Priest
Money has reckoned the soul of America
Congress broken thru the precipice of Eternity
the president built a War machine which will vomit and rear Russia out of Kansas
The American Century betrayed by a mad Senate which no longer sleeps with its wife.
Franco has murdered Lorca the fairy son of Whitman
just as Mayakovsky committed suicide to avoid Russia
Hart Crane distinguished Platonist committed suicide to cave in the wrong
America
just as Million tons of human wheat were burned in secret caverns under the White House
While India starved and screamed and ate mad dogs full of rain
and mountains of eggs were reduced to white powder in the halls of Congress
no God-fearing man will walk there again because of the stink of the rotten eggs of America
and the Indians of Chiapas continue to gnaw their vitaminless tortillas
aborigines of Australia perhaps gibber in the eggless wilderness
and I rarely have an egg for breakfast tho my work requires infinite eggs to come to birth in Eternity
eggs should be eaten or given to their mothers
and the grief of the countless chickens of America is expressed in the screaming of her comedians over the radio
Detroit has built a million automobiles of rubber trees and phantoms
but I walk, I walk, and the Orient walks with me, and all Africa walks
And sooner or later North America will walk
Einstein alive was mocked for his heavenly politics
Bertrand Russell driven from New York for getting laid
immortal Chaplin driven form our shores with a rose in his teeth
a secret conspiracy by Catholic Church in the lavatories of
Congress has denied contraceptives to the unceasing masses of India.
Nobody publishes a word that is not the cowardly robot ravings of a depraved mentality
The day of the publication of true literature of the American
body will be day of Revolution
the revolution of the sexy lamb
the only bloodless revolution that gives away corn
poor Genet will illuminate the harvesters of Ohio
Marijuana is a benevolent narcotic but J. Edgar Hoover prefers his deathly Scotch
And the heroin of Lao-Tze & the Sixth Patriarch is punished by the electric chair
but the poor sick junkies have nowhere to lay their heads
fiends in our government have invented a cold-turkey cure for
addiction as obsolete as the Defense Early Warning Radar System.
I am the defense early warning radar system
I see nothing but bombs
I am not interested in preventing Asia from being Asia
and the governments of Russia and Asia will rise and fall but
Asia and Russia will not fall
The government of America also will fall but how can America fall
I doubt if anyone will ever fall anymore except governments
fortunately all the governments will fall
the only ones which won’t fall are the good ones
and the good ones don’t yet exist
But they have no being existing they exist in my poems
they exist in the death of the Russian and American governments
they exist in the death of Hart Crane & Mayakovsky
now is the time of prophecy without death as a consequence
the universe will ultimately disappear
Hollywood will not rot on the windmills of Eternity
Hollywood whose movies stick in the throat of God
Yes Hollywood will get what it deserves
Time
Seepage of nerve-gas over the radio
History will make this poem prophetic and its awful silliness a hideous spiritual music
I have the moan of doves and the feather of ecstasy
Man cannot long endure the hunger of the cannibal abstract
War is abstract
the world will be destroyed
Monument to Sacco & Vanzetti not yet financed to ennoble Boston
Vachel Lindsay Secretary of Interior
Poe Secretary of Imagination
Pound Society. Economics
and Kra belongs to Kra, and Pukti to Pukti
cross-fertilization of Block and Artaud
Van Gogh’s ear on the currency
no more propaganda for monsters
and poets should stay out of politics or become monsters
I have become monstrous with politics
the Russian poet undoubtedly monstrous in his secret notebook
Tibet should be left alone
these are obvious prophecies
America will be destroyed
Russian poets will struggle with Russia
Whitman warned against this “Fabled Damned of nations”
Where was Theodore Rosevelt when he sent out ultimatums from his castle in Camden
Where was the House of Representatives when Crane read aloud from his Prophetic Books
What was Wall Street scheming when Lindsay announced the doom of money
Where they listening to my ravings in the locker rooms of
Bricksford Employment Offices?
Did they bend their ears to the moans of my soul when I struggled
with market research statistics in the Forum of Rome?
No they were fighting in their fiery offices , on the carpets of
heart failure, screaming and Bargaining with Destiny
fighting the Skeleton with sabers, muskets, buck-teeth,
indigestion, bombs of larceny, whoredom, rockets, and pederasty,
back to the wall to build up their wives and apartments, lawns,
suburbs,
fairydoms,
Puerto Ricans crowded for massacre on 114th St. for the sake of an
imitation Chinese-Moderne refrigerator
Elephants of mercy murdered for the sake of the Elizabethan birdcage
millions of agitated fanatics in the bughouse for the sake of the screaming
soprano of industry
Money-chant of soapers - toothpaste apes in television sets - deodorizers on hypnotic chairs -
petroleum mongers in Texas - jet plane streaks among the clouds -
sky writers liars in the face of Divinity–fanged butchers of hats and shoes,
all Owners! Owners! Owners! with obsession on property and vanished Selfhood!
and their long editorials on the fence of the screaming negro attacked by
ants crawled out of the front page!
Machinery of a mass electrical dream! A war-creating whore of Babylon
bellowing over Capitols and Academies!
Money! Money! Money! shrieking mad celestial money of illusion!
Money made of nothing, starvation, suicide! Money of failure! Money of death!
Money against Eternity! and eternity’s strong mills grind out vast paper of
Illusion!

terça-feira, 4 de março de 2025

A Esperança é poema

“Teremos comida, não restos.

Vamos viver o momento, apreciá-lo - não apenas como uma lembrança do que já foi, mas como prova de que ainda estamos aqui. Que carregamos dentro de nós o legado daqueles que perdemos.

E agora, mais do que nunca, entendo a oração de minha mãe:

"Oh Deus, vamos chegar ao Ramadão sem perder ninguém ou nos perdermos."

Mas desta vez, eu sussurro de forma diferente.

Oh Deus, vamos chegar ao Ramadão... sem perder mais ninguém. ”

A liberdade que brota das ruínas tem futuro


segunda-feira, 3 de março de 2025

OS BANCOS - Armando Silva Carvalho


OS BANCOS

 

Era bom descolar dos bancos, erguer o olhar acima

das cantarias, deste peso rotundo,

desta massa de cifras, destes arranjos de papéis abstratos,

destes homens que sou obrigado a ler e ouvir

como tributo ao facto de ainda estar vivo.

Tudo isto e o futebol

e os seus comentadores de camisa aberta, 

deprime a minha idade, mata-me

mais cedo.

 

Eu descubro a febre antes dela me chegar aos membros, 

olho-me ao espelho e pareço um cientista ambulante

desses que ganham prémios

e só lhes falta fixamente o próximo

para alcançarem o cómodo lugar de santos laicos.

As doenças estendem-se nos mapas,

as pestes são como as mariposas, 

e tudo parece esvoaçar na febre programada. 

 

Mas melhor mesmo era descolar dos bancos, 

subir acima do mármore, adormecer sem idade nem estrela,

ou descer tão baixo que a água não consiga encontrar-me,

e os vermes duma beleza estranha, azul, tão movediça,

venham beijar-me os poemas, discípulos de morte.

Sim, descolar dos bancos, encher a boca de terra,

enfim, saber dormir. 


Armando Silva Carvalho


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

"As Últimas Palavras de Spartacus"- Amal Dunqul

 

"As Últimas Palavras de Spartacus"

(Primeiro Verso)

Glória a Satanás... o ídolo dos ventos,

Que disse "Não" à face daqueles que disseram "Sim",

Que ensinou o homem a rasgar o nada,

Que disse "Não" e não morreu,

E permaneceu um espírito de dor eterna!

(Segundo Verso)

Estou suspenso na forca do amanhecer,

E minha testa - pela morte - está curvada,

Porque não a curvei... enquanto vivo!

Ó meus irmãos que cruzam a praça martelando,

Descendo ao final da tarde,

Na rua de Alexandre, o Grande:

Não se envergonhem... e levantem os olhos para mim,

Pois vocês estão suspensos ao meu lado... na forca de César,

Então levantem os olhos para mim,

Talvez... se seus olhos encontrarem a morte nos meus,

A aniquilação dentro de mim possa sorrir... porque vocês levantaram suas cabeças... uma vez!

"Sísifo" não carrega mais a pedra em seus ombros,

Ela é carregada por aqueles que nasceram nas deceções da servidão,

E o mar... como o deserto... não mata a sede,

Porque aqueles que dizem "Não" só bebem de lágrimas!

Então levantem os olhos para o rebelde enforcado,

Pois vocês acabarão como ele... amanhã,

E beijem suas esposas... aqui... à beira da estrada,

Pois vocês acabarão aqui... amanhã,

Pois a curvatura é amarga...

E a aranha acima dos pescoços dos homens tece a decadência,

Então beijem suas esposas... deixei minha esposa sem uma despedida,

E se vocês virem meu filho que deixei em seus braços sem um braço,

Ensinem-no a se curvar!

Ensinem-no a se curvar!

Deus não perdoou o pecado de Satanás quando ele disse não!

E os bons suplicantes...

São aqueles que herdam a terra no final do caminho,

Porque... eles não se enforcam!

Então ensinem-no a se curvar...

E não há escapatória,

Não sonhem com um mundo feliz,

Pois atrás de cada César que morre: um novo César nasce!

E atrás de cada rebelde que morre: dores sem proveito...

E uma lágrima desperdiçada!

(Terceiro Verso)

Ó grande César: Errei... confesso.

Deixe-me - na minha forca - beijar sua mão,

Eis que beijo a corda que envolve meu pescoço,

Pois é sua mão, e é sua glória que nos força a adorá-lo.

Deixe-me expiar meu pecado,

Eu lhe ofereço - após minha morte - meu crânio,

Forje dele uma taça para sua bebida forte.

Se você fizer como eu desejo...

Se eles perguntarem sobre o sangue do meu mártir,

E se você me concedeu "existência" apenas para me roubar da "existência",

Diga a eles: Ele morreu... sem guardar rancor de mim.

E esta taça - cujos ossos eram seu crânio -

É meu documento de perdão.

Ó meu algoz: Eu o perdoei...

No momento em que você encontrou descanso de mim,

Eu encontrei descanso de você!

Mas eu o aconselho, se você quiser enforcar todos,

Poupe as árvores!

Não corte os troncos para fazer deles forcas,

Não corte os troncos,

Pois talvez a primavera possa chegar,

"E o ano é um ano de fome", E você não sentirá o cheiro de frutas nos galhos!

E talvez o verão perigoso passe por nossas terras,

Você atravessa o deserto, buscando sombras,

E você não vê nada além de aridez, areias, aridez, areias,

E sede ardente nas costelas!

Ó senhor dos mártires brancos na escuridão...

Ó César da geada!

(Quarto Verso)

Meus irmãos, que na praça cedem, curvando-se,

Descendo à medida que a noite se esvai,

Não visualizem um mundo de alegria...

Pois cada César caído dá lugar ao nascimento de outro.

E se em seu caminho você encontrar "Aníbal",

Diga a ele que esperei uma vida inteira nos portões cansados de "Roma",

Esperei os anciãos de Roma sob o arco da vitória, o vencedor dos campeões,

E as mulheres romanas adornadas,

Ansiosamente esperando a chegada das tropas...

Aqueles com cabeças atlânticas encaracoladas.

Mas os soldados conscritos de "Aníbal" nunca chegaram,

Então diga a ele que esperei... esperei...

Mas ele nunca veio!

E que esperei por ele... até me encontrar nas cordas da morte.

E à distância: "Cartago" queima nas chamas,

"Cartago", a consciência do sol: aprendeu o significado de ajoelhar-se,

E a aranha acima dos pescoços dos homens,

E as palavras estão engasgando.

Meus irmãos: A virgem Cartago está queimando,

Então beijem suas esposas...

Deixei minha esposa sem uma despedida,

E se você vir meu filho, que deixei em seus braços... sem um braço,

Ensinem-no a se curvar...

Ensinem-no a se curvar...

Ensinem-no a se curvar…

Amal Dunqul