sábado, 27 de junho de 2009

A angústia dos camaleões ou a dança dos gurus



A angústia dos camaleões ou a dança dos gurus

Na efervescência do 25 de Abril, um dos meus vizinhos, frente à porta de entrada da sua residência exibia, ostensivamente, o simbólico poster da Vieira da Silva. Procurava-me, saudava-me efusivamente e fui convidado algumas vezes para tomar café em sua casa, onde os livros de autores progressistas se mostravam a despropósito. A contra-revolução foi-se instalando e, após uma das suas guinadas mais virulentas, o poster deu lugar a uma natureza-morta. O hall de entrada moldou-se a um alinhamento clássico e os novos convivas apresentavam uma postura formal. Via-o sempre a correr e se nos cruzávamos lançava-me umoláapressado e displicente. Não muito tempo depois, todas as manhãs uma viatura do Estado, com motorista fardado, vinha buscar sua excelência, o senhor engenheiro. Deixei de o ver quando foi ocupar um alto cargo numa organização bancária algures em África.

Um caso que nada tem de original e, quantos mais, cada um de nós não terá para contar!?

Os tempos são outros e a luta para manter ou conquistar umtacho” é cada vez mais renhida, por isso os gurus andam aturdidos e, porque individualistas, encontram-se tresmalhados não vislumbrando qual o redil que, futuramente, os poderá albergar. Dispondo de bom pasto, a manada proliferou, acotovelando-se em espaços partidários cada vez mais exíguos.

Os resultados eleitorais enevoaram o futuro político-partidário, não se vislumbrando que mestre-sala irá repartir o bolo após os resultados das próximas legislativas. E porque, como deixou explicito o “democrata” Winston Churchill, “os fins justificam os meios”, os candidatos à rapadura do tacho não deixarão de utilizar todos os meios, dos menos escrupulosos aos mais indignos, para satisfazerem a gula, epidémica ou congénita, que se apresenta de expressão bulímica.

Os gurus representam uma ampla mancha flutuante, disponível e servil, extremamente frágil e vulnerável e, ao mesmo tempo, moldável a qualquer situação por mais ambígua ou pouco recomendável para gente com vergonha.

Estes escassos meses que os separam das legislativas vão-lhes exigir as mais sofisticadas acrobacias de baixeza, dolorosos golpes de rins, o recurso a indumentárias recicladas e movimentações lentas, mas seguras, próprias aos experimentados camaleões, que com facilidade e rapidez, mudam de aparência, de comportamento ou de carácter e que intencionalmente adaptam ou modificam as suas atitudes, comportamentos ou opiniões, de acordo com as circunstâncias, especialmente em função dos seus interesses e conveniências pessoais.

que repensar as férias, alargar o leque de contactos; fazer-se encontrado, sugerir apoios, evitando comprometer-se abertamente para deixar o espaço indispensável às mudanças de última hora. Estes meses vão-lhes exigir um trabalho intenso; está em jogo o futuro próximo indispensável para garantir a satisfação de encargos assumidos e um estilo de vida dificilmente conseguido de outro modo.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A pop perdeu um rei

Não se fal de outra coisa
só se fala dessa coisa chamada Michael Jackson


Hoje morreu mais um operário
deixa 3 filhos

Os media ignoraram-no

Os monstros comandam o mundo

Até quando?





terça-feira, 23 de junho de 2009

Marcos Ana



«A vida»

Digam-me como é uma árvore.
Digam-me o
canto do rio
quando se cobre de pássaros.
Falem-me do
mar, falem-me do aroma aberto do campo,
das
estrelas, do ar.
Recitem-me
um horizonte
sem fechadura e sem chaves,
como a cabana de um pobre.

Digam-me como é o beijo
de uma
mulher. Dêem-me o nome
do
amor, não o recordo.

As noites ainda se perfumam
de apaixonados
com tremores
de
paixão sob a Lua?

Ou resta apenas esta fossa,
a
luz de uma fechadura
e a
canção das minhas lajes.

Vinte e dois anos esqueço
a
dimensão das coisas,
a
sua cor, o seu aroma… Escrevo

a tactear: «o mar», «o campo»…
Digo «
bosques» e perdi
a
geometria da árvore.

Falo, por falar, de assuntos
que os anos em mim apagaram

(não posso continuar, oiço
os
passos do funcionário)



domingo, 21 de junho de 2009

TOMA TOMA TOMA


TOMA TOMA TOMA


Ainda prefiro os bonecos de cachaporra,

contundentes, contundidos, esmocados,

com vozes de cana rachada e um toma toma toma

de quem não usa a moca para coçar os piolhos,

mas para rachar as cabeças.

O padreca, o diabo, a criadita,

o tarata, a velha alcoviteira, o galã

e, às vezes, um verdadeiro rato branco trapezista,

tramavam para nós a estafada estória

da nossa própria vida.

Mundo de pasta e de trapo

que armava barraca em qualquer canto

e sem contemplações pela moral de classe

nem as subtilezas de quem fica ileso

desancava os maus e beijocava os bons.

Ainda prefiro os bonecos de cachaporra.

Ainda hoje esbracejo e me esganiço como esses

matraquilhos da comédia humana.


Alexandre O'Neill

sábado, 6 de junho de 2009

Volto já!


Com problemas técnicos mas... não me demoro.


Entretanto vão apreciando esta

"folha e flores do castanheiro"



sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mario Benedetti


Um Amigo residente no Uruguai teve a gentileza de me enviar jornais e revistas publicadas quando do falecimento de Mário Benedetti.


De uma primeira leitura apressada transcrevo o poema de "despedida"
de
Rafael Courtoisie




Palabras bienvenidas

Si, CLARO, LA "muerte", esa palabra.

Se fue Mario, me dicen por skype,
por e mail, por teléfono
por sms.

Mario, a quien lloro sin lágrimas
a ocho mil quilómetros de Montevideo
por el absoluto cotidiano
y porque ya
"no tento miedo de tener sentimientos".

"Triste" es una palabra cursi, lo sé,
a la que tampoco habré de temer
de ahora en adelante.

No tiengo mas miedo
ya
de ninguna palabra
a ninguna palabra.

Pero "infinito" es una palabra exigua
y "poeta" un vocablo tan dulce y fuerte
que durará hasta siempre.

So sorry,
por el flagrante pleonasmo
o redundancia
ya no importa:

Bienvenido,
para siempre, Mario
a la palabra "siempre".

Rafael Courtoisie



segunda-feira, 1 de junho de 2009

Salgueiro Maia



Assim se preserva a nossa memória histórica



"Em memória de Salgueiro Maia,
insigne herói do 25 de Abril de 1974,
nascido nesta casa."


O que fará a Associação 25 de Abril?