quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Saudação a Fernando Pessoa - Allen Ginsberg

 


Saudação a Fernando Pessoa


Sempre que leio Pessoa penso
sou melhor que ele faço a mesma coisa
mas mais extravagante
¾ ele é apenas de Portugal,
eu sou americano o melhor País do mundo
neste momento Fim do Século XX embora Portugal
tenha tido um grande império no século 15 que importa
está reduzido a um Canto da Península Ibérica
ao passo que Nova Iorque vejam Nova Iorque por exemplo
embora a Cidade do México seja maior N.I. é mais rica pensem no Empire State
Building até há pouco o maior arranha-céus do mundo
¾
afinal de contas já vivi 61 anos do Século XX
Pessoa só andou pela Rua do Ouro até 1936
Ele entrou em Whitman por isso eu entro em Pessoa não
interessa o que dizem além disso morto não se oporia.

Por que sou melhor que Pessoa?
Conhecido em 4 Continentes tenho 25 livros em inglês ele só 3
os dele quase todos em português, mas disso ele não tem culpa
Os EUA são um país maior
só 2 triliões de dívida dão p’ra enlouquecer,
o trabalho sujo de Reagan uma aberração do Século Americano
não representa a nossa Nação que Whitman cantou em modo épico
mas com que se preocupou em Democratic Vistas
Como budista não me orgulho da minha superioridade em relação a Pessoa
eu sou humilde, Pessoa era louco grande diferença,
embora aparentemente gay
¾ tal como Sócrates
olhem para Miguel Ângelo da Vinci Shakespeare
o inestimável camarada Walt
É verdade fui suspeito esquerdóide quando muito jovem coisa sem importância
A própria ciência destrói camadas de ozono nesta era anti-estalinistas
envenenam a terra inteira com anticomunismo radioactivo.
Talvez tenha mentido um pouco
raramente em verso, apenas para proteger a reputação dos outros.
Sinceramente demasiado    Cândido    em    relação    à    minha    mãe    embora
     bem-intencionado
Pessoa terá falado na mãe? ela é interessante,
poderosa para dar à luz sêxtuplos
Alberto Caeiro Álvaro de Campos Ricardo Reis Bernardo Soares & Alexander
     Search simultaneamente
com Fernando Pessoa ele mesmo um sexofrénico clássico
A confusão de Personae não é tão apreciada
fora do minúsculo reino de Portugal (até há pouco tempo um estado policial de
segunda)
Deixa-me ir ao que interessa mmm já não me lembro do que era
mas claro dá-me prazer comparar este Ginsberg & Pessoa
na Ibéria não se fala sobre quase nenhum livro em inglês
de momento a principal língua diplomática no mundo, estendendo-se pela China.
Além disso ele era pequenote, como admite no interminável «Saudação a Walt
    Whitman»
ao passo que 1,72m de altura
um pouco acima da média mundial, imodéstia à parte,
estou a falar seriamente de mim e de Pessoa
De qualquer forma ele nunca me influenciou, nunca li Pessoa
antes de ter escrito o meu celebrado Uivo já traduzido para 24 línguas,
nem mesmo hoje a influência de Pessoa cria ansiedade
Meia-noite 12 de Abril de 88 apenas folheando o seu livro
certamente me influencia de passagem, era de esperar
mas ter lido uma página traduzida dificilmente prova «Influência».
Voltando a Pessoa, escreveu sobre quê? Whitman
(Lisboa, o mar etc.) método peculiarmente prolixo
verborreia dizem alguns
¾ Pessoa Schmessoa.

Allen Ginsberg

12 de Abril de 1988


terça-feira, 22 de novembro de 2022

Yo pisaré las calles nuevamente - Pablo Milanés

 

Yo pisaré las calles nuevamente

 

Yo pisaré las calles nuevamente
De lo que fue Santiago ensangrentada
Y en una hermosa plaza liberada
Me detendré a llorar por los ausentes

Yo vendré del desierto calcínante
Y saldré de los bosques y los lagos
Y evocaré en un cerro de Santiago
A mis hermanos que murieron antes

Yo unido al que hizo mucho y poco
Al que quiere la patria liberada
Dispararé de las primeras balas
Más temprano que tarde sin reposo

Retornarán los libros las canciones
Que quemaron las manos asesinas
Renacerá mi pueblo de su ruina
Y pagarán su culpa los traidores

Un niño jugará en una alameda
Y cantará con sus amigos nuevos
Y ese canto será el canto del suelo
A una vida segada en La Moneda

Yo pisaré las calles nuevamente
De lo que fue Santiago ensangrentada
En una hermosa plaza liberada
Me detendré a llorar por los ausentes

Yo pisaré las calles nuevamente
De lo que fue Santiago ensangrentada
En una hermosa plaza liberada
Me detendré a llorar por los ausentes

 

Pablo Milanés

 

domingo, 20 de novembro de 2022

Folha Rubra - A. M. Pires Cabral

 

Folha Rubra

É bom sermos como essas folhas verdes
que prolongam todo o ano a Primavera.

Mas melhor do que isso
é sermos como aquela folha rubra
que antes das outras pressentiu o Outono
e vestiu para ele a sua melhor cor,

mesmo sabendo que o Inverno tem um plano
para em breve a dissolver no chão.

 

A. M. Pires Cabral

 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Morte à orelha de Van Gogh! - Allen Ginsberg

 


Morte à orelha de Van Gogh!

O POETA é Profeta
o Dinheiro contabilizou a alma da América
o Congresso foi trilhado até ao precipício da Eternidade
o Presidente construiu uma máquina de Guerra para vomitar e obrigar a Rússia a sair
         do Kansas
O Século Americano foi traído por um Senado louco que já não dorme com a mulher
Franco assassinou Lorca o filho maricas de Whitman
tal como Maiakóvski se suicidou para escapar à Rússia
Hart Crane distinto Platonista suicidou-se para desabar a América errada
tal como milhares de toneladas de centeio humano foram queimados em cavernas
           secretas por baixo da Casa Branca
enquanto a Índia morria à fome e gritava e comia cães raivosos cheios de chuva
e montanhas de ovos eram reduzidas a pó branco nas câmaras do Congresso
nenhum homem temente a deus passará por lá outra vez com aquele fedor a ovos
          podres da América
e os Índios de Chiapas continuam a mastigar as tortilhas sem vitaminas
os aborígenes da Austrália talvez gaguejem na selva sem ovos
e eu que raramente como um ovo ao pequeno-almoço embora o meu trabalho
         requeira ovos infinitos para que possa vir à luz na Eternidade
os ovos devem ser comidos ou oferecidos às mães
e o sofrimento das inúmeras galinhas da América é expresso pelos gritos dos
          comediantes na rádio
Detroit construiu um milhão de automóveis com árvores de borracha e fantasmas
mas eu caminho, eu caminho, e o Oriente caminha comigo, e toda a África caminha e
          mais cedo ou mais tarde a América do Norte caminhará
pois tal como escorraçamos o Anjo chinês da nossa porta ele virá para nos escorraçar
da Porta Dourada do futuro
nós não compartilhámos pena por Tanganyika
Em vida Einstein foi gozado pela sua política celestial
Bertrand Russel foi escorraçado de Nova Iorque por ter sido possuído
o imortal Chaplin foi escorraçado da nossa costa com uma rosa nos dentes
uma conspiração secreta orquestrada pela Igreja Católica nos lavabos do Congresso
recusou contraceptivos às massas incansáveis da Índia.
Ninguém publica uma palavra que não seja o delírio autómata e cobarde de uma
mentalidade depravada
O dia da publicação da verdadeira literatura do corpo americano será dia da
Revolução
a revolução do cordeiro sensual
a única revolução sem sangue que distribui milho de graça
o pobre Genet iluminará os ceifeiros do Ohio
A marijuana é um narcótico benevolente mas J. Edgar Hoover prefere o seu whisky
mortífero
E a heroína de Lao-Tsé & do Sexto Patriarca é punida com a cadeira eléctrica
mas os pobres junkies doentes não têm onde deitar a cabeça
gatunos no nosso governo inventaram uma cura a sangue frio para o vício tão
obsoleta como o Sistema de Defesa por Radar de Alerta Antecipado
Eu sou o sistema de defesa por radar de alerta antecipado
Não vejo outra coisa senão bombas
Não estou interessado em impedir a Ásia de ser Ásia
e os governos da Rússia e da Ásia irão erguer-se e cair mas a Ásia e a Rússia não
cairão
o governo da América também cairá mas como poderá a América cair
duvido que alguém mais caia a não ser os governos
felizmente todos os governos vão cair
os únicos que não vão cair são os bons
e os bons ainda não existem
Mas têm que começar a existir eles existem nos meus poemas
existem na morte dos governos russos e americanos
existem na morte de Hart Crane e Maiakóvski
Agora é tempo de profecia sem que a morte seja uma consequência
o universo acabará por desaparecer
Hollywood vai apodrecer sobre os moinhos de vento da Eternidade
Hollywood com os filmes entalados na garganta de Deus
Sim Hollywood terá o que merece
Tempo
Infiltração de gás de nervos pela rádio
A história tornará este poema profético e fará da sua parvoíce assombrosa uma
música espiritual medonha
Eu tenho o lamento das pombas e a pluma do êxtase
o Homem não pode aguentar muito tempo a fome do canibal abstracto
A guerra é abstracta
o mundo será destruído
mas morrerei apenas pela poesia, isso salvará o mundo
o monumento a Sacco & Vanzetti ainda não foi financiado para enobrecer Boston
os nativos do Quénia atormentados por aldrabões idiotas de Inglaterra
a África do Sul nas garras do branco tolo
Vachel Lindsay Ministro da Administração Interna
Poe Ministro da Imaginação
Pound Min. da Economia
e Kra pertence a Kra, e Pukti a Pukti
fertilização cruzada de Blok e Artaud
a Orelha de Van Gogh na moeda
chega de propaganda a monstros
e os poetas devem afastar-se da política ou transformar-se em monstros
tornei-me monstro pela política
o poeta russo é sem dúvida monstruoso no seu bloco de notas secreto
os poetas russos farão frente à Rússia
o Tibete devia ser deixado em paz
Estas são profecias óbvias
a América será destruída
Whitman avisou-nos sobre esta «nação condenada ao Fracasso»
Onde estava Theodore Roosevelt quando enviou ultimatos do seu castelo em
Camden
Onde estava a Câmara dos Representantes quando Crane leu em voz alta os seus
livros proféticos
Onde estava Wall Street a maquinar quando Lindsay anunciou o apocalipse do
Dinheiro
Estariam a ouvir o meu delírio nos balneários dos Centros de Emprego do Bickfords?
Será que inclinaram os ouvidos para escutar os gemidos da minha alma quando eu
me via a braços com estatísticas de marketing no Forum em Roma?
Não eles lutavam em gabinetes inflamados, em tapetes de insuficiência cardíaca, e
gritavam e regateavam com o destino
enfrentavam o Esqueleto com sabres, mosquetes, dentes tortos, indigestão, bombas
de furto, impérios de prostituição, foguetões, pederastia,
de costas para o muro para erguerem as suas mulheres e os seus apartamentos,
relvados, subúrbios, impérios de maricas,
Porto-Riquenhos amontoados para o massacre na Rua 114 só por causa de uma
imitação do frigorífico Chinês-Moderno
Elefantes de misericórdia assassinados só por causa de uma gaiola isabelina
Milhões de fanáticos frenéticos no manicómio por causa do soprano estridente da
indústria
Cânticos ao dinheiro dos ensaboadores
¾ macacos de pasta dentífrica nos televisores
¾ desodorizantes sobre cadeiras hipnóticas ¾
traficantes de petróleo no Texas
¾ rastos de aviões a jacto por entre as nuvens ¾
escritores a jacto mentem na cara da Divindade
¾ carniceiros de sapatos e chapéus,
com presas, todos Patrões! Patrões! obcecados pela propriedade e pelo
Individualismo em extinção!
e os longos editoriais sobre a esgrima do negro aos gritos atacado por formigas
rastejaram pela primeira página fora!
Maquinaria de um colossal sonho eléctrico! Uma Puta da Babilónia criadora de
guerras a bramir sobre os Capitólios e Academias!
Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! louco e celestial dinheiro da ilusão a gritar! Dinheiro
feito de nada, de fome, de suicídio! Dinheiro do fracasso! Dinheiro da morte!
Dinheiro contra a Eternidade! e as fábricas poderosas da eternidade trituram a imensa
folha da Ilusão!

 

Allen Ginsberg
Tradução e prefácio
de Paula Ramalho Almeida e Joana Matos Frias

Paris, Dezembro de 1957

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Canto a la libertad - Canto a la libertad

 

Canto a la libertad 

Habrá un día
En que todos
Al levantar la vista,
Veremos una tierra
Que ponga libertad.

Hermano, aquí mi mano,
Será tuya mi frente,
Y tu gesto de siempre
Caerá sin levantar
Huracanes de miedo
Ante la libertad.

Haremos el camino
En un mismo trazado,
Uniendo nuestros hombros
Para así levantar
A aquellos que cayeron
Gritando libertad.

Habrá un día
En que todos
Al levantar la vista,
Veremos una tierra
Que ponga libertad.

Sonarán las campanas
Desde los campanarios,
Y los campos desiertos
Volverán a granar
Unas espigas altas
Dispuestas para el pan.
Para un pan que en los siglos
Nunca fue repartido
Entre todos aquellos
Que hicieron lo posible
Por empujar la historia
Hacia la libertad.
Habrá un día
En que todos
Al levantar la vista,
Veremos una tierra
Que ponga libertad.

También será posible
Que esa hermosa mañana
Ni tú, ni yo, ni el otro
La lleguemos a ver;
Pero habrá que forzarla
Para que pueda ser.

Que sea como un viento
Que arranque los matojos
Surgiendo la verdad,
Y limpie los caminos
De siglos de destrozos
Contra la libertad.

Habrá un día
En que todos
Al levantar la vista,
Veremos una tierra
Que ponga libertad.
Habrá un día
En que todos
Al levantar la vista,
Veremos una tierra
Que ponga libertad.

 

Jose Antonio Labordeta