quarta-feira, 29 de junho de 2011

A civilização Acidental

LIBERDADE
Foram necessários três polícias para deter este jovem grego.
Para desvalorizar as manifestações de descontentamente os meios de intoxicação social referem sempre os jovens e a imagem é concludente.

IGUALDADE
Um perigoso manifestante grego agride dois polícias desarmados.
É um jovem marginal habituado a desacatos e com o qual a polícia manifesta muita paciência e compreenção.

A "Civilização Ocidental" de matriz europeista expressa velhos valores. A democracia atinge o seu apogeu e é contra estes valores universais que o Povo Grego se insurge.

sábado, 18 de junho de 2011

José Saramgo 1922 / 2010


16/11/1922 -- 18/06/2010

DEMISSÃO

Este mundo não presta, venha outro.

Já por tempo de mais aqui andamos

A fingir de razões suficientes.

Sejamos cães do cão: sabemos tudo

De morder os mais fracos, se mandamos,

E de lamber as mãos, se dependentes.

* * *

«Pois o tempo não pára…»

Pois o tempo não pára, nem importa

Que vividos os dias aproximem

O copo de água amarga colocado

Onde a sede da vida se exaspera.

Não contemos os dias que passaram:

Hoje foi que nascemos. Só agora

A vida começou, e, longe ainda,

Pode a morte cansar à nossa espera.

* * *

OPÇÃO

Antes arder ao vento como archote

Num deserto de sombras e de medos,

Que ser a dócil rima do teu mote,

Um morrão de cigarro nos teus dedos.

José Saramago

«Os Poemas Possíveis»

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Antes Que Seja Tarde


Antes Que Seja Tarde

Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"ceia de pobre, roupa remendada"

Vasco Gonçalves
(3/5/1922 - 11/6/2005)

O COMUM DA TERRA

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.

Quem conheça o sul e a sua transparência

também sabe que no verão pelas veredas da cal

a crispação da sombra caminha devagar.

De tantas palavras que disseste algumas se perdiam

outras duram ainda, são lume, breve arado,

ceia de pobre, roupa remendada.

Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão

era morada e instrumento de alegria.

Esse eras tu: inclinação da água. Na margem

vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade

a

Vasco Gonçalves, 14-5-76

segunda-feira, 6 de junho de 2011

5 de Junho


Este é o tempo

Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam.

Sophia de Mello Breyner Andersen, Mar Novo (1958)