Das pessoasque atingem posições elevadas, cerimónias, riqueza, erudição, e similares: paramimtudoisso a que chegam taispessoas afunda diante delas — a nãoserquando acrescenta umresultadoqualquerparaseuscorpos e almas — de modoqueelas muitas vezesme parecem desajeitadas e nuas, e paramim uma está sempre zombando das outras e a zombar dele mesmoou dela mesma, e o cerne da vida de cadaqual (a que se dá o nome de felicidade) está cheio de pútridoexcremento de larvas, e paramim muitas vezesesseshomens e mulheres passam semtestemunhar as verdades da vida e andam correndo atrás de coisas falsas, e paramimsão muitas vezespessoas que pautam as suasvidasporumhábito que a elas foi imposto, e nadamais, e paramim é gentetriste muitas vezes, genteafobada, estremunhados sonâmbulos tacteando no escuro.
José Barata-Moura é o mandatário nacional da candidatura de Francisco Lopes à Presidência da República
Declaração
«Vivemos umperíododifícil e complexo. É precisa uma inflexão das políticas. É preciso uma mudança da política.
A cartilha liberalista – que continua a ir sendo soletrada emdiversostons – trouxe-nos à crise: nãonos pode fazersair dela.
Portugal redefiniu os seusrumoshistóricos na revolução de Abril. É essa navegaçãoque tem queserretomadacomlucidez, sem ambiguidades, nemhesitações.
O interesse de Portugal – no exercício da suasoberania – tem de recentrar-se no interesse dos trabalhadores e do povo: sem o seuempenho e participação não há reconstrução de umpaís.
Francisco Lopes, candidato à Presidência da República, peloseu percurso de vida e pelomovimentoque encabeça, é o rosto e a voz dessa mobilização necessáriaparaumdurotrabalho a prosseguir.
É porissoque – honrado peloconviteparamandatárionacional, que de boa mente aceito – dou o meuapoio à candidatura de Francisco Lopes à Presidência da República.»
A participação política deu-me algo muito importante, um sentimento solidáriomuito forte, a consciência de participar numa luta pela humanidade, com todasas sombras históricas que essa luta teve.
"Há muitos poderes presidenciais que não são usados"
por JOÃO CÉU E SILVA
É membro das maisaltasinstâncias do PartidoComunistaPortuguêsmastambémum dos dirigentesmenosconhecidos dos eleitores. Decertoque deixará de o sermal as suasprestações na comunicaçãosocial tornem conhecida a energia deste deputado electricista e rival de Cavaco Silva, Manuel Alegre, Fernando Nobre e DefensorMoura na corrida presidencial do próximoano
Ficou surpreendido com o anúncio do "despedimento colectivo" de ummilhão de cubanos feitopelocomandante Fidel Castro? O tema da entrevistasão as eleições presidenciais em Portugal e a realidade portuguesa!... Emrelação a essa questão, posso dizerque olhamos para o mundo e vemos emCubaumexemplonotável de soberania, determinaçãoemtorno de umideal e de um projecto humanista. Nãoapenaspara o povo cubano masparatoda a América Latina e todo o mundo, istoemcircunstânciasmuito adversas de bloqueio e de acções sistemáticas ao longo de décadas.
Isso justifica esta mudança de rumo? Os dirigentes cubanos têm todo o direito de pensaremcadamomentoquaissão as formas de organização do seuEstado e darresposta aos interesses do povo. Creio que a formacomo se coloca a questão - "despedimento colectivo" - não é ajustada para esta realidadeatéonde a conhecemos, porque as notíciassãorecentes. Até gostaria de dizermais, que o princípioessencial de uma sociedadesocialista é de a cadaum, segundo as suas possibilidades, o seutrabalho. Se for istoque for aplicado emCuba no processoemcurso de afirmação do seu projecto, responde às necessidades de todos os trabalhadores cubanos, perspectivando uma experiênciaque é de grandeutilidade, nãoapenasparaaquelepovomaspara o mundo.
Nessa dialéctica marxista, pode concluir-se que o fim do Muro de Berlim não o espantou? Há muitas pessoasque olham paradeterminadosacontecimentos da evoluçãohistórica e que os usam paradizerque a humanidade parou no sistemacapitalista. Essa pergunta corresponde a uma metáforamuitoantiga, bemconhecida dos portugueses, que é a célebreimagem do Velho do Restelo, queperante o primeirosoçobrar das naus portuguesas que saíram da barra do Tejo dizia "nuncamais se atrevam, não passem além da barra do Tejo". Se se tivesse seguido esseconselho, a humanidadenãotinha progredido e esseproblema põe-se também do ponto de vistasocial. Há hoje a teoria dos velhos do Restelo da organização da sociedade e eunãopensoque o capitalismo seja o patamarmaisavançado da civilizaçãohumana, é necessárioirmaislonge.
Esta alteração do caminho da revoluçãosocialista cubana não é, então, umretrocesso? A experiência de cadapovo e país tem de ser, emprimeirolugar, apreciada peloprópriopovo e pelosseusdirigentes. A afirmação deste princípio, inerente ao socialismo, será uma afirmação do processo cubano.
Álvaro Cunhal teria contornado a questão de ummodo parecido como o que está a fazer... Cadapessoa é uma pessoa e cadadirigentepolítico tem as suascaracterísticas. É nesse quadroque dou esta resposta.
Quando o descrevem comotímido, perante estas respostas parece maisarrojado... Nesse aspectotalveznão seja a melhorpessoaparamecaracterizar a mimpróprio.
Está preparadoparaestecombatepolítico? Inteiramente! Nãoapenaspara o combatepolítico da campanhamastambémparaassumir todas as responsabilidadesque o povoportuguês entenda dar-me nestas eleições presidenciais. Eu candidato-me à Presidência da República, sou candidato a presidentecomtudo o queisso implica.
Qual dos quatrorivais vai sermais complicado combater? A minhacandidatura posiciona-se comum projecto para Portugal. Não ignoro que há outroscandidatos e umpresidente da Repúblicaemfunções, mastudoissosãoelementos de enquadramento emrelação a uma realidadeque se sobrepõe: o facto de a minhacandidaturaterum projecto própriopara o País numa situaçãoque é extraordinariamente difícil. A expressão "desastrenacional" não é exagerada se esterumocontinuar.
Porisso a suacandidatura? É nestas condiçõesque entendo que é necessáriodar uma oportunidade ao povoportuguêspara uma opçãonovaque seja de ruptura e que abra uma fasenova da vidanacional ao aproveitar as potencialidades que existem. Porquenós pensamos que Portugal não é umpaíspobre, entendemos que tem possibilidades parasermaisdesenvolvido e maisjusto. E é neste quadroque coloco aos portugueses uma escolhaque têm de fazer.
Será que terão interesseem fazê-la? Paragrandesproblemas, grandesescolhas, e a minhacandidatura protagoniza isso. Nós olhamos para o actual Presidente e entendemos que a suacontinuaçãonão seria apenasmanter os problemasmas o seu agravamento. Cavaco Silva, nosúltimos 25 anos, teve 15 anos das maisaltasresponsabilidadespolíticas do Paísenquantoprimeiro-ministro e presidente da República. Ninguémque olhe para a realidadenacional actual e para o futuro pode perspectivarque da suaparte haja qualquercaminhopararesolver os problemasnacionais.
E emrelação às outras candidaturas? Há também uma diferençamuitoclara. A minhacandidatura é a únicaquenão tem o compromissocom as políticas e com o rumoque levou ao afundamento do País. É a únicaque tem um projecto de ruptura e de mudançaparaumcaminhonovopara o País. Isso vê-se relativamente às candidaturas de Manuel Alegre, Fernando Nobre e DefensorMoura, diferentesentresimastodos têm responsabilidades neste processodevido à falta de clarezaquanto às rupturas necessárias.
Dêumexemplo? No querespeita à soberanianacional, porexemplo. A reflexãoque fazemos aponta para a necessidade de apostar na produçãonacional, no aproveitamento das riquezas do País, no aumento dos salários, das pensões e na melhoria do poder de compracomo factor de justiçasocial e de promoção do desenvolvimento económico e de apoio às PME.
Mas essa é uma questão de governação?Aindarecentemente vimos esta aceitação do Governo PS com o vistoprévio dos orçamentospelaUnião Europeia e temos os comentários do actual Presidente, que diz "issonão é bemassim" e que "já estava atéprevisto"; Manuel Alegreveiodizerque "é uma beliscadela na Constituição", mas sorri e segue emfrente! Não é o que se passa, pois o vistopréviotira a soberania ao Estado e ao povoportuguês no promover das grandeslinhas do desenvolvimento.
No entanto, o PCP nunca tem queridosergoverno, nemfazercoligações. Porquê?Eu sou candidato à Presidência da República e só posso responder nesse quadro. Está apenas nas mãos dos portugueses a decisão e, se o fizerem nesse sentido, estou disponívelparaassumir as responsabilidades. É a questãoessencialque se coloca relativamente às presidenciais, emquenão há nenhuma hesitação.
Mas na questão de sergoverno... Relativamente a essa parte, direi que o PCP tem como objectivo exercer a máximainfluência na vidapolíticanacional. Essa situaçãonão põe de lado a assunção de todas as responsabilidades do ponto de vista institucional e governativo, a única condicionante que temos é o entendimento do povoportuguês nesse sentido. Uma participação dessas teria de serparaum projecto políticodiferente e que corresponda aos nossoscompromissos de sempre e às necessidades do País.
Quantomaisforte for o seuresultadoeleitoral, maisfácil é dividir o voto de esquerda e elegerCavaco Silva? Exactamente ao contrário! Quantomaisforte for a votação na minhacandidatura, maisforça se dá a um projecto claro e inequívoco de esquerdapara o futuro de Portugal. Quantomaisforte for a votação na minhacandidatura, menoshipóteses tem o actual Presidente de vencer as eleições à primeiravolta.
Como é que faz essas contas?Porquenão divide, antes mobiliza e acrescenta apoios, participação e votos num projecto políticodiferente e oposto ao que representa o actual Presidente da República.
Crê quetambém vai buscarvotos ao centro?Não faço essa análise da realidade! Olhopara Portugal e vejo emcadaportuguês uma opinião e uma capacidade de observar o País e a suaprópriavida. Ao dirigir-me a cadaum deles peço que reflictam na situação actual do País e vejam se se impõe ounãoumcaminhonovo. Dirijo-me a cadaum e a todos, independentemente de emquem votaram nas últimas eleições presidenciais ou nas últimas eleições legislativas.
Até parece que se está a ouvir Francisco Louçã! De maneira nenhuma! São projectos, percursos e formasdiferentes de estar na política.
Como é que vai evitarqueCavaco Silva ganhe logo à primeiravolta? Todos os que votarem emmim estão a darum contributo paraqueCavaco Silva não tenha 50% dos votos na primeiravolta. E o povoportuguês tem forçasuficienteparainverter o rumo do País e obter outras condiçõespara a suaprópriavida. Porisso, apelo-lhes paraque usem a forçaque têm e o seuvoto na minhacandidatura nas próximas eleições presidenciais.
Acredita na recandidatura de Cavaco Silva? É uma questãoquenão se coloca uma vezque o que caracteriza estas últimas semanas é uma actuação do Presidente, Cavaco Silva, com uma intensidade de campanhaeleitoralque será difícilter no período da própriacampanha. Embora diga que é no quadro das funções presidenciais.
Seria importanteaparecer uma segundacandidatura de direita? No quadro dos objectivos da minhacandidaturanão é questãorelevanteou a quedêparticularatenção e importância.
Se conseguircaptar o votocomunistaporinteiro, Alegrenão terá votoútil. É a intenção? O que quero é congregar o maiornúmeropossível de votos do povoportuguês na minhacandidatura, quenão se confunde nemcom a acção desenvolvidapelo actual Presidente da Repúblicanemcom a acção e a política desenvolvidas pelo actual e anterioresgovernos do PS. Não vemos que outras candidaturas tenham esta nitidez e há observaçõesfeitaspor Manuel Alegreque parecem colocarnos objectivos da suacandidaturaumpouco a salvação e a continuidade da política deste Governo, o que seria desastroso.
Dá a entenderque a candidatura de Manuel Alegre divide a luta da esquerda... É, sobretudo, uma candidatura de alguém comprometido comesterumo de políticaque levou à situação actual, e não apresenta - independentemente das declarações - um percurso que se ajuste às necessidades do País.
Adivinha-se que fará uma campanha de modo a queAlegrenão tenha umvotocomunista... Vou fazer uma campanhaparaque se canalizem todos os votospossíveis dos que votaram CDU mastambém dos que votaram noutros partidos. É naturalquemuitosque votaram noutras candidaturas entendam que é tempo de dizer "altolá, chegou o momento de fazer uma opçãoquenunca fiz na vida".
No seucaso, não terá problemaque apareça na campanha o líder do partidoque o apoia? A minhacandidatura tem clarezanos objectivos e não tem elementos de contradiçãorelativamente à convergência dos apoios.
Alegre diz quenunca se perdeu uma eleição presidencial porcausa do PCP, ou seja, considera que irá transferir o votoparaele. Será?Cadaeleição é diferente e cadaeleição presidencial é realizada numa determinadaépoca. O grande contributo que o PCP deu para esta é decidir a apresentação de uma candidatura e não há resultados antecipados seja quais forem as sondagens e análisessobreeleiçõesanteriores. Quem vai decidir na primeiravolta é o povoportuguês, e, emfunção dos resultados, se verá quempassa à segundavolta. Aí se verá quem tem de apoiarquem e quem é responsabilizado pelas suasopçõespolíticas futuras.
Desta vez, os portugueses nãovão "enganar-se" como fizeram quando elegeram Cavaco Silva ou José Sócrates? Os portugueses votaram.
Sãopolíticosque o PCP critica. Não é só o PCP que critica, a evidência da evolução do País mostrou quenão servem!
Os portugueses enganaram-se ao elegerestes representantes? Votaram num determinadocontexto e com o conjunto de informaçãoque tinham. Quanto a nós, malpara o País, comohoje é visível. O que se coloca é que, estando perante uma novaeleição, equacionem a situação da suavida e a do País e que considerem se é ounãochegado o momento de optarem de uma formadiferenteparaque Portugal não tenha os dias contados comonaçãoindependente e próspera.
Mesmocom o visto de Bruxelas? O presidente da República tem entre as suasfunções a definição de umelementoessencialque é o garante da independêncianacional. E tem de usartodosessespoderesparaque a independência e a soberania do povoportuguêsou do seudestino se exerça de facto. Isso implica lutarparaumoutro enquadramento de Portugal no planointernacional e a diversificação de relaçõesexternas, situaçãocontrária ao que fizeram sucessivosgovernos e presidentes da República, que abdicaram até da concepção dessa estratégia de desenvolvimentonacional.
Masnão foi issoqueCavaco Silva foi fazer à Lisnave? Mostrar a produçãonacional?Não, o que fez na Lisnave foi uma acção de campanhaeleitoral encapotada e relativamente a uma realidadeque é a de um sector da indústrianavalque definhou ao longo das últimas décadas. Com uma realidadesocialbastantediferente e inaceitávelcomo é o caso, porexemplo, da situação de trabalhadoresestrangeiros a viverem contentores! Essa realidadenão foi revelada.
Concorda que o Presidente tenha obrigado o Governo e o PSD a entenderem-se na aprovação do próximoOrçamento do Estado? Ao longo deste mandato temos assistido a divergências e conflitosentre o Presidente e o Governoemquestõesmenosrelevantes e a grandeconcordância e convergência nas políticas económicas e sociaiscontra os interesses do País. Emrelação ao Orçamento, é mais uma vezissoque está emcausa. Nãosão os interesses do Paísque estão a levar a essa convergênciamas os interesses dos grupos económicos e financeiros.
Comocandidato, choca-o esta proposta de revisãoconstitucional do PSD? A Constituição é umelementocentral do País e uma leifundamental, e corresponde a umcompromissoque o presidente da República declara defender e cumprir no acto emquetomaposse. Eu candidato-me neste quadro, com os actuais poderes.
TambémCavaco Silva aceitou estespoderescomosuficientes.Relativamente à Constituição, o que é que verificamos? Queesterumo de declínionacional tem sido realizado numa políticacontrária e de desrespeitopelaConstituição. Emtermosmaisrecentes, é a prática do Governo do PS.
O Presidente deveria ter tido outraatitude? Na minhaconcepção do uso dos poderes do Presidente, ele deve intervircomtodos os que tem e, no limite dos seuspoderes, paraque haja umrumooposto a este. Paraalém do confrontocom a Constituição a partir da acção do Governo, o mesmo PS vem criticar o PSD porque se propõe a alterar o texto. Quesão alterações gravesmasemque a discussãoentre PS e PSD é maisparaportuguêsver do queumconfronto de posições.
O tempo da apresentação da proposta de revisão é errado? O problemanão é do momentoemque é apresentado, é a natureza das propostasque vai emsentidocontrárioàquilo de que o Paísprecisa.
Se fosse eleito presidente, comquem lidaria melhor: José Sócrates ouPassosCoelho? Se for eleito presidente da República, e essa é uma questãoquesó o povoportuguês poderá decidir, o essencialparamim é intervir usando todos os poderes do presidente da Repúblicaparamaterializarumrumodiferenteque seja a concretização do projecto de democraciapolítica, económica, social e cultural que a Constituiçãocomporta.
Nãoachaque os portugueses sãocontra a presidencialização e que essa intervenção seria subalternizar a governação? De maneira nenhuma! Tudo o que refiro é parafazer no quadro dos poderes do presidente da República e não extravasando os seuspoderes. Defendo a suautilizaçãototal, numa perspectiva de construção de umfuturomelhor.
Achaque os poderesque o presidente tem sãosuficientes? Candidato-me no quadro dos poderesque o presidente tem consagrados na Constituição.
Considera quenãosãonecessáriosmaispoderes?Não, atéporque há muitospoderesquenãosão usados. Se o direito de veto foi usado várias vezespeloPresidente da República, nas questõesessenciaiscomo o caso do PEC houve quase uma corrida combinada entre o Governo e a Presidência da Repúblicaparaum promulgação num temporecorde. Há muitosaspectos consagrados na Constituiçãoquenãosão aplicados, repito.
A quepoderes presidenciais se refere? Os poderesque existem sãovastos e é no quadro destes poderes contemplados na Constituiçãoquepensoque é possívelter uma intervençãoque, emvez de pôr o presidente da República a acentuar a e acelerar as políticas erradas do Governo, as possa evitar e contribuirpara uma mudançaemsentidocontrário. Embora pense tambémque, se a mudança de que o Paísprecisapassapor uma novaopção na Presidência da República, elatambém exige alterações mais profundas na correlação de forçaspolíticas na sociedade portuguesa. Masisso será motivopara a luta quotidiana dos trabalhadores e para as eleiçõespara a Assembleia da República.
A pré-campanha decorrerá sob o fantasma da revisãoconstitucional e da aprovação do Orçamento. É benéficopara o debate? A campanha tem de estarligada a todos os problemas do País e essas duas sãoquestõesimportantes. A minhacandidatura, no entanto, verá maislonge do que a penumbraque querem colocar da revisão da Constituição e do Orçamento.
Partilha da ideia de que a candidatura de Fernando Nobre é invenção de Mário Soares?Não tenho elementossuficientesparamepronunciar nesses termos. O que posso dizer é que a candidatura de Fernando Nobrenão tem clareza de propósitos e de objectivos.
"Dançar não é propriamente o meu forte"
Para se serumbompolítico tem de se ter alguma demagogia no discurso? Recuso liminarmente essa ideia. Pode haverquem tenha sucesso na vidapolítica utilizando a demagogia e a mentira, mas no meupartido habituei-me à posturacontrária.
Vai superar os 466 507 votos de Jerónimo de Sousa enquantocandidato presidencial?Nãomecandidato a percentagensmasparapermitir ao povoportuguês a alternativapara as funções de presidente da República.
A suacandidatura é a forma de criar uma alternativa a uma liderançafutura do PCP? Conhecem muitomal o PCP os que pensam quecom a gravidadeque os problemas apresentam o PCP fosse decidir a apresentação de uma candidaturaporqualquercálculointerno. Jerónimo de Sousa tem todas as condições - força, determinação, convicção e capacidade - paraser a solução de secretário-geral para o presente e o futuro.
Porque é que o escolheram? É uma avaliação colectiva. Certamenteporque entenderam que é umimperativointervircom uma candidaturaque reúna condiçõesparatravar esta importantebatalha.
Nunca foi presopolítico? Comecei a minha militância com 17 anos num movimento associativo estudantil [União de EstudantesComunistas] e tive uma situação - quenão se compara com a de outroscamaradas - de assalto da PIDE à casaonde vivia, procurando identificarligação directa com o PCP, masnão fui preso.
Como é que os históricos vêem umdirigente do PCP semessepassado? No PCP essa questão foi muitobem resolvida há mais de trêsdécadas.
Quando foi a primeiravezque tomou conhecimento da existência de Álvaro Cunhal? Foi em 1972/73, quando comecei a minha actividade política, porouvirfalar e portextos. Foi o caso do Rumo à Vitória.
A literatura de Cunhal entusiasmou-o? Li commuitointeresseAtéAmanhã, Camaradas e aprecio Estrela de SeisPontas.
O que achou do últimolivro do Carlos Brito?Não li.
Qual é o seuclube de futebol?Emtempos tive simpatiapela Académica de Coimbra, mas foi-se esbatendo.
O que faz nostemposlivres? Tenho uma actividade políticamuitointensa e a minhavida é marcada porisso. Nas fériasgosto de nadar; tenho idomais ao teatroque ao cinema; acabei de ver uma exposição no MuseuNacional de ArteAntiga...
É casado? Tem filhos? Vivoemunião de facto com a minhamulher e tenho duas filhas.
Qual foi o maiordesafio da suavida? É muitodifícilresponder a uma perguntatão totalizante. Direi quecadaetapa da minhavidacomportaumconjunto de desafios a que procuro responder.
Vai ao supermercadofazer as compras?Nãotão frequentemente comojá fui.
Gosta de dançar?Não é propriamente o meuforte.
Gostamais da dançapolítica?Cada uma tem o seuespaço.
Se fosse presidente, o que mudaria? Portugal. Paramelhor.
"É preciso o máximo de apoio à minha candidatura para não eleger Cavaco"
Mantém que o seu objectivo principal é derrotarCavaco Silva? O objectivo essencial da minhacandidatura é apresentarum projecto ao País de alternativapara o exercício das funções de presidente da República, que abra umcaminho de esquerdaque permita o desenvolvimento, a justiça e o progressosocial. E isto envolve queCavaco Silva não seja eleito e a necessidade do máximoapoio à minhacandidaturaparaque se abra esta janela de esperança.
Se houver uma segundavolta, o PCP terá de apoiar Manuel Alegre? Terei todo o gosto e interesseemresponder à questãoapós a primeiravolta. Atélá, concentrarei toda a minhaenergia e convicção nesta mensagem de um projecto políticoque é o úniconão comprometido com o afundamento nacional e capaz de mudar.
Isso pressupõe que levará a suacandidaturaaté ao fim? É claro e inequívocoqueassim é.
Mas numa segundavolta, se Manuel Alegre tiver maisvotos, o PCP decertoque o apoiará? É o quejá disse: essetipo de questões, seja emrelação a Manuel Alegre, a Fernando Nobre, a DefensorMouraou a qualqueroutrocandidatoque se coloque, terei todo o gostoemresponderdepois. Esperando atéquenão seja necessáriosereu a responder-lhe, porque cabe ao povoportuguêsdecidir se sou euque tenho de dar a resposta. Não está escritoemladonenhumque o povoportuguêsnão tenha o direito de votarmaciçamente na minhacandidaturaparaque tenha perspectivasdiferentes do que sugere.
Até temos umexemplohistórico, de quando Álvaro Cunhal teve de pedirpara se engolir o sapo e votarem Mário Soares. Disse bem, histórico. É quecadafase da vidanacional é uma novafase. Estamos numa situaçãoemque há uma opção de rupturacom a política de direita e de umrumodiferentepara o País. Só a minhacandidatura afirma esse projecto e é issoqueeu transmito aos portugueses, dando essa oportunidade de alternativa.
Para o presidente da República seria importantehaver uma convergência de esquerda? A questão da convergência é interessante, masparamim aquela que se coloca sempre é: convergênciaemtorno de quê? O projecto de rupturacom a política de direita implica que o poderpolíticonão esteja controlado pelopoder económico e pelosgrandesgrupos económicos e financeiros. Que é o que acontece ao longo destas últimas décadas, quando respondeu bem a essesinteressesporqueemmomentos de crise e de combate ao défice essesgrupos têm semprelucros elevadíssimos e crescem. A questão da convergência coloca-se sempreemprimeirolugaremtorno de umprograma de mudançaque responda às necessidades dos trabalhadores e de Portugal.