quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Prémio PEN Club para Manuel Gusmão

Um Poeta Comprometido

Prémio PEN Club

A SOMBRA NOS MAPAS: O TEMPO

o brilho inapagável de um gesto suspenso

e depois a bruma no lugar do rosto que não está.

não saberemos nunca como repetir tal brilho

nem como pedir-te essa metamorfose do terceiro corpo

que voa oblíquo no sobressalto destes dois nossos

e incandesce no passado que toda a morte não promete.

Tens uns joelhos assim.

nãoluz que chegue para dizer o que nos pode fazer

um mar atravessado nos ombros e caindo como a noite

dessa cabeça nocturna, em chamas.

Manuel Gusmão

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Parasitas - O Papão

PARASITAS

No meio duma feira, uns poucos de palhaços

Andavam a mostrar, em cima dum jumento

Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,

Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,

Exploravam assim a flor do sentimento,

E o monstro arregalava os grandes olhos baços,

Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:

Deram esmola até mendigos quase nus.

E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da cruz,

Que andais pelo universo, há mil e tantos anos,

Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

O PAPÃO

As crianças têm medo à noite, às horas mortas,

Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,

Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.

Não te rias da infância, ó velha humanidade,

Que tu também tens medo ao bárbaro papão,

Que ruge pela boca enorme do trovão,

Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,

Um papão que não faz a barba há seis mil anos,

E que mora, segundo os bonzos têm escrito,

Lá em cima, detrás da porta do infinito!

Guerra Junqueiro

(A Velhice do Padre Eterno)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Não esqueçam para que não sejam esquecidos

ajudar a construir o futuro
com
a
CDU


não serão esquecidos

têm sido a preocupação primeira das nossas autarquias
QUE VIVAM AS CRIANÇAS COM A DIGNIDADE QUE A TODOS É DEVIDA

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa - Gracias

http://www.youtube.com/watch?v=h0QFkpUhBFo

La Cigarra


Tantas veces me mataron
Tantas veces
me morí
Sin
embargo estoy aquí

Resucitando
Gracias doy a la desgracia
Y a la mano con puñal
Porque me mató tan mal
Y seguí cantando


Cantando al sol

como la cigarra
Después de un año

Bajo la tierra
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra


Tantas veces me borraron
Tanta desaparecí
A mi propio entierro fui
Sola y llorando
Hice un nudo en el pañuelo
Pero me olvidé después
Que no era la única vez

Y seguí cantando

Cantando al
sol

Como la cigarra
Después de un año

Bajo la tierra

Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra

Tantas veces
te mataron
Tantas resucitarás
Cuantas noches pasarás

Desesperando

Y a la hora del naufragio
Y la de la oscuridad
Alguien
te rescatará
Para ir cantando

Cantando al
sol

Como la cigarra
Después de un año

Bajo la tierra
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra. . .


A Cigarra

Tantas vezes me mataram

Tantas vezes morri

Entretanto estou aqui

Ressuscitando

Graças dou à desgraça

E à mão com punhal

Porque me matou tão mal

E segui cantando

Cantando ao sol

Como a cigarra

Depois de um ano

Debaixo da terra

Como o sobrevivente

Que volta da guerra

Tantas vezes me apagaram

Tantas desapareci

Ao meu próprio enterro fui

e chorando

Fiz um no lenço,

Mas logo esqueci

Não foi a única vez

E segui cantando

Cantando ao sol

Como a cigarra

Depois de um ano

Debaixo da terra

Como o sobrevivente

Que volta da guerra

Tantas vezes te mataram

Tantas ressuscitarás

Quantas noites passará

Desesperando

E à hora do naufrágio

E à da escuridão

Alguém te resgatará

Para ir cantando

Cantando ao sol

Como a cigarra

Depois de um ano

Debaixo da terra

Como o sobrevivente

Que volta da guerra


Maria Helena Walsh