(a criança e a vida)
SÃO MÃOS QUE TRABALHAM
São mãos que trabalham.
São de homens que puxam barcos, guiam máquinas,
arrancam pedras, martelam nas ruas.
Estas mãos têm dores.
As mãos com feridas têm saudades da água fresca,
das flores, da língua dum cão, das penas dum passarinho.
Os homens destas mãos são tristes. Têm fome, têm sede,
gostavam de acordar um dia e descansar de manhã à noite.
Gosto muito das mãos das pessoas que trabalham.
Estas mãos fazem lembrar um coração com susto.
Miguel Macedo (1966)
MÃOS DE PEDRA
Estas mãos são muito tristes.
Parecem pedras.
Tem estas cores porque estiveram muito tempo
debaixo de água.
Eram mãos de amigos que iam para longe
e os outros não queriam e choravam.
Nunca mais se encontraram.
As mãos ficaram de pedra, à espera,
à espera, à espera, à espera, muito tempo.
Dos dedos nasceram formigas e flores encarnadas.
Maria da Conceição (1966)
AS MÃOS DOS AFOGADOS
São mãos de afogados.
Morrem e depois ficam as flores do mar.
Dão gritos.
Ninguém ouve os gritos.
Os companheiros é Deus, os peixes, as rosas e o escuro.
Sonham que estão vivos e conversam e são amigos
das flores, e das pedras e dos peixes.
A morte dos afogados é como uma canção.
As ondas são berços azuis.
Alberto (1966)
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