sábado, 17 de dezembro de 2011

Guia para candidatos aos infernos

Candidatos coléricos


Nós, os coléricos, temos a nossa própria honra.
Sempre levámos a sério as ameaças dos livros sagrados.
Sempre acreditámos que a cólera decidiria deste nosso lugar.
Escolhemos,
apesar disso, a grande recusa, dispostos a tudo.
Ou foi ela a escolher-nos, dá no mesmo.
Mostrámos aos
doutores de todas as igrejas que desprezávamos as suas ameaças.
Mostrámos aos
donos do mundo o teor da nossa justa fúria.
Mostrámos aos
timoratos que o medo é curável.
Mostrámos ao
nosso medo que não o tememos.
Nenhum de nós aqui tem medo. Medo de quê?
Dos
homens de cornos e olhos de mocho?
Dos
grandes lagartos de línguas longas?
Dos
que têm enguias e cobras na boca?
Dos
que têm lábios de patas de polvo?
Do
dragões que vomitam fogo?
Dos
venenos? Dos monstros?
A
nossa cólera foi a nossa força.

Almeida Faria