Candidatos coléricos
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Nós, os coléricos, temos a nossa própria honra.
Sempre levámos a sério as ameaças dos livros sagrados.
Sempre acreditámos que a cólera decidiria deste nosso lugar.
Escolhemos, apesar disso, a grande recusa, dispostos a tudo.
Ou foi ela a escolher-nos, dá no mesmo.
Mostrámos aos doutores de todas as igrejas que desprezávamos as suas ameaças.
Mostrámos aos donos do mundo o teor da nossa justa fúria.
Mostrámos aos timoratos que o medo é curável.
Mostrámos ao nosso medo que não o tememos.
Nenhum de nós aqui tem medo. Medo de quê?
Dos homens de cornos e olhos de mocho?
Dos grandes lagartos de línguas longas?
Dos que têm enguias e cobras na boca?
Dos que têm lábios de patas de polvo?
Do dragões que vomitam fogo?
Dos venenos? Dos monstros?
A nossa cólera foi a nossa força.
Almeida Faria
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