domingo, 24 de junho de 2012

A esperança


«A esperança não é um suplemento de alma vaporosonem um suprimento ficcionado para compensatório consolo das muitas misérias circundantes que afligem.

A esperança não é uma espera – encomendada à resignação submissa, aqui e ali, colorida por salpicados assomos de rebeldia avulsa.

A esperança é um horizonte trabalhado do ser – é do concreto trabalho das realidades que ela nasce, e renasce.

Por vezes, esperamos pelo tempo. Esperamos muito do tempo. Agastamo-nos com o tempo que se perde, que se gasta, que se desaproveita. Tememos que o tempo apenas tarde, ou demasiado tarde, venha a chegar. Colocamo-nos de fora do tempo, em posição aprumada de exterioridade expectante – e ficamos à espera do espectáculo… vendo passar os comboios na velocidade que levarem, ou procurando avistar os navios por entre o nevoeiro. Sem perceber que somos caminheiros da viagem; sem tomar a cargo os passos do caminho.

Rebate.

Não será tempo de cultivar a esperança trabalhada?
Não será tempo de não abdicar da lavrança de uma história que – no tempo que é o nosso – sofremos, sem dúvida, mas que, dentro das nossas limitações e na mobilização das capacidades de que dispomos, vamos também afeiçoando (como o artesão a pedra) e, no limite (qual material tornado obra de escultura), transformando?
Não será tempo de tomar a sério, e nas mãos, a exigente tarefa de viverum bem que apenasenquanto dura?

José Barata Moura
Lisboa, Nov. de 2010
“O tempo e a História, Tão-só um soturno, e mal-alinhavado, aperitivo
VÉRTICE – Nov./Dez.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A CANÇÃO DA FOME - Das Hungerlied


(1822-1856)

GEORG WEERTH


A CANÇÃO DA FOME

Prezado senhor e rei,
Sabes a
notícia grada?
Segunda comemos pouco,
Terça não comemos nada.

Quarta sofremos miséria,
E
quinta passámos fome;
Na
sexta quase nos fomos -
Não se aguenta quem não come!

Por isso se no sábado
Mandas
cozer o pãozinho,
Senão no domingo, ó rei,
Vamos comer-te inteirinho!


Das Hungerlied

Verehrter Herr und König,
Kennst du die schlimme Geschicht?
Am Montag aßen wir wenig,
Und am Dienstag aßen wir nicht.

Und am Mittwoch mussten wir darben
Und am Donnerstag litten wir Not;
Und ach, am Freitag starben
Wir fast den Hungertod!

Drum lass am Samstag backen
Das Brot fein säuberlich -
Sonst werden wir Sonntags packen
Und fressen, o König, dich!

 

Tradução de João Barrento
"in
Rosa do Mundo 2001 poemas para o futuro"

Hungerlied  (Canção da Fome)

o
poema é do ano 1844

O Georg Weerth passou a
maior parte do tempo quer em Wuppertal (onde nasceu o Engels), Bonn ou na Inglaterra (a partir de 1843) ligado ao trabalho dos tecelões.
Na Inglaterra
onde deve ter escrito o poema devido à terrivel exploração que ali reinava, conheceu o Engels e encontrou-se com o Marx na Bélgica no Verão de 1845. Ligou-se aos comunistas, através do Comité de Correspondencia Comunista fundado 1946 por Marx e Engels. E trabalhou como correio devido às sua numerosas viagens para a Liga dos Comunistas. Engels disse que Weerth tinha sido o primeiro poeta alemao comunista.
A
partir de 1846 fixou-se em Bruxelas numa tecelagem, mas logo que rebentou a revolução em França em Fevereiro/Marco de 1848 (ano do Manifesto)
arrancou
para Paris para participar na revolução.