«A esperança não é um suplemento de alma vaporoso – nem um suprimento
ficcionado para compensatório consolo das muitas misérias
circundantes que afligem.
A esperança não é uma espera –
encomendada à resignação submissa, aqui e ali, colorida por salpicados assomos de rebeldia avulsa.
A esperança é um horizonte trabalhado do ser – é do concreto trabalho das realidades que ela nasce, e
renasce.
Por vezes, esperamos pelo tempo. Esperamos muito do tempo.
Agastamo-nos com o tempo que se perde, que se gasta, que se
desaproveita. Tememos que o tempo apenas tarde, ou demasiado tarde, venha a chegar.
Colocamo-nos de fora do tempo, em posição aprumada de exterioridade expectante – e ficamos
à espera do espectáculo… vendo passar os comboios na velocidade que levarem, ou procurando avistar os navios por entre o nevoeiro. Sem perceber que somos caminheiros da viagem; sem tomar a cargo os passos do caminho.
Rebate.
Não será tempo de cultivar a esperança trabalhada?
Não será tempo de não abdicar da lavrança
de uma história que – no tempo que é o nosso – sofremos,
sem dúvida, mas que, dentro das nossas limitações e na
mobilização das capacidades de que dispomos,
vamos também afeiçoando (como o artesão a pedra) e, no limite (qual material tornado obra de escultura), transformando?
Não será tempo de tomar a sério, e nas mãos, a exigente tarefa de viver – um bem que apenas há enquanto dura?
José
Barata Moura
Lisboa, Nov. de 2010
“O tempo e a História, Tão-só um soturno, e mal-alinhavado, aperitivo”
VÉRTICE – Nov./Dez.
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