“Um dos maiores ourives da palavra…”
Permito-me
partilhar convosco a alegria deste reencontro com João Guimarães Rosa, escritor que tão grande contributo deu na construção da língua portuguesa.
“Em meus textos.
quero chocar o leitor,
não deixar que ele repouse
na bengala dos lugares-comuns,
das expressões acostumadas
e domesticadas.
Quero obrigá-lo a sentir
uma novidade nas palavras.”
quero chocar o leitor,
não deixar que ele repouse
na bengala dos lugares-comuns,
das expressões acostumadas
e domesticadas.
Quero obrigá-lo a sentir
uma novidade nas palavras.”
“Aquilo saía gemido e tremido, e vinha bulir com o coração da gente, mas era forte demais. Octaviano pediu
a seu Saulinho para mandar o pretinho calar a boca. Mas seu Saulinho tinha tirado da algibeira o retrato da patroa, e
ficou espiando, mais as cartas… Porque seu Saulinho não sabia ler, mas gostava de receber cartas da mulher, e não deixava ninguém ler para ele: abria e ficava só olhando as letras, calado e alegre, um tempão…”
(in Sagarana)
--- “Quando tudo era falante… No centro deste sertão e de todos. Havia o homem --- a coroa e o rei do reino --- sobre grande e ilustre fazenda, senhor de cabedal e possanças, barba branca para coçar. Largos campos, fim das terras, essas províncias de serra, pastagens de vacaria, o urro dos marruás. A Fazenda Lei do Mundo, no campo do Seu Pensar… Velho homem morreu, ficou o herdeiro filho…
…Nos pastos mais de longe da Fazenda, vevia um boi, que era o Boi Bonito, vaqueiro nenhum não aguentava trazer no curral…
O sinal desse boi era: branco leite, cor de flor. Não tinha marca de ferro. Chifre de bom parecer. Nos verdes onde pastava, tantos pássaros a cantar.
(in Manuelzão e Miguilim)
JOÃO GUIMARÃES ROSA
1908 – 1967
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