quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Eugénio Lisboa - HOMENAGEM A GOMES LEAL

HOMENAGEM A GOMES LEAL

"Morre o povo pelas esquinas,
com a fome que também matou Camões.
Abrigam-se os pobres nas ruínas,
com gestos e ademanes de ladrões.

Com fome e frio, o povo abandonado,
sacode o mundo, tenebrosamente:
dá-me tu, ó Musa, um furor sagrado,
que nos levante, poderosamente!

Uma lira feita de vinganças,
uma lira cuspindo ameaças!
Uma lira que abale as seguranças
dos que vivem de rapina e trapaças!

Dá-me um canto canoro e eloquente,
que seja para os pobres como um sol,
pai dos párias e astro transcendente,
que faz do pobre grato girassol!

Ó Musa, quero a gana do Poeta,
que me ajude a castigar este horror,
a varrer, com vigor, esta sarjeta,
onde copulam gula e impudor!"

Eugénio Lisboa
( depois de reler “A Fome de Camões”, de Gomes Leal).
Versos, escritos, segundo ele próprio, “relendo Gomes Leal, num Domingo melancólico, meditando neste horror que se abateu sobre o nosso país”:

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