ARTE POÉTICA
Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.
Que venha corpo e amante
e de amante
seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante
de pão.
Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te
vale a pena
passá-lo de mão
em mão.
Que seja rua ou
ternura
tempestade ou manhã
clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.
Que traga rugas
e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco
de pinho
e deite as armas
ao mar.
Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te
vale a pena
passá-lo de mão
em mão.
Hélia Correia
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