POEMA
DOS MOTORISTAS OFICIAIS
Encontram-se
um pouco por todos os lugares.
Ora
fumando,
orando
pelos filhos junto a um deus
secretariado
por magníficos
patrões.
De
fato azul e gravata preta,
de
anel cachucho e jornal da bola,
o
rabo habituado aos bons cabedais
pousado
no capot ultra-reluzente.
Trazem
a província em cada bolso do corpo
e
estendem olhos julgadores às mulheres solitárias
de
cigarro na boca em plena rua.
Às
vezes são quatro ou cinco à espera do final
de
um conselho em pleno parto,
de
uma portaria inacabada
ou
de uma reunião de economia mística.
Derramam
no passeio
o
ócio inexplicável de rústicos fiéis
e
contam anedotas num bocejo amarelo de melancolia.
Quem
lhes dera a reforma, a courela da mãe,
ou num sonho longínquo
essa
noite sem lua em que engravidaram
a
prima por descuido.
Sinto
por todos eles um sentimento soturno
e
muito gostaria
que
Cesário os conhecesse
ao
passear sozinho
pelas
novas avenidas ao anoitecer.
Armando
Silva Carvalho
(O
que foi passado a limpo - obra poética)
Assírio
& Alvim
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