AS PALAVRAS
São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas
vêm, cheias de memória.
Inseguras
navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas,
inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas
puras?
Eugénio de Andrade
Poema de Eugénio de Andrade (in "Coração do Dia",
Lisboa: Iniciativas Editoriais,
1958; "Antologia Breve",
7.ª edição, Porto:
Fundação Eugénio de Andrade, 1999 –
págs. 35-36) Dito pelo autor
(registo do arquivo da RDP)
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