quarta-feira, 23 de setembro de 2015

AS PALAVRAS - Eugénio de Andrade



AS PALAVRAS

São como cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
Poema de Eugénio de Andrade (in "Coração do Dia", Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1958; "Antologia Breve", 7.ª edição, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1999 – págs. 35-36) Dito pelo autor (registo do arquivo da RDP)

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