QUENGUÊLÊQUÊZE*
SARCASMO
No cume da montanha, imóvel, quedo,
Parara, há muitos anos, um penedo.
Era um penedo negro, informe e bruto
Como vestindo a humanidade em luto.
Das arestas sem conto e das profundas fendas
Contavam-se em redor milhões de negras lendas.
Daí, dessa eminência,
Sujeito à inclemência
Dos séculos, das noites
Dos ríspidos açoites,
Dos ventos e dos sóis,
– Um bloco de tristeza
Rasgando a Natureza,
A Humanidade, o Espaço,
E em decidido traço
Abrindo o Mundo em dois,
Contemplava o penedo, absorto e mudo.
Tristezas,
Ambições
Baixezas,
Corações,
Vanglórias,
... Tudo!
Um dia,
Subindo cauteloso a penedia,
Eu fui-me pôr de rojo, todo medo,
Junto ao penedo.
Era noite de Inverno. A ventania
Uivara no penedo a noite e o dia.
Horas sem conto ali fiquei, tremendo à escuta,
Colado o ouvido à pedra horrivelmente bruta.
Súbito, dentro, oscilações estranhas
De um revolver esdrúxulo de entranhas
Eu comecei a ouvir.
Os ventos se calaram.
Fez-se silêncio e então,
Na imensa solidão,
O penedo tremeu e dominando o Mundo
Lançou, oh! espanto! um gargalhar profundo.
E desatou a rir... a rir... a rir...
Era o penedo a rir dos Homens e do Mundo..
* “quenguêlêquêze” significa lua nova
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