… Não, Poesia:
Não te escondas nas grutas de meu ser,
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
abre de par em par as portas do meu ser
— sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti,
e tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo…
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.
A perseguição e a descrença
marcaram tanto,
que preferiu encaminhar
os filhos
para a classe média.
Proíbe que se fale
de política à mesa
e indica com o gosto
e o dedo
a profissão liberal
de cada um.
Cultiva flores no jardim
e esquizofrênicos em casa.
Rapariguinha
Cose a tua saia
Velha de cambraia
Que outra não podes comprar baixa a bainha
Rasga o pé-de-meia
Quando é magra a ceia
Quem nos há de aguentar
Oh bonitinha
A que preço
está o peixe
Na corrida
A xaputa já é truta
Promovida
Puxa da massa apalpa a fruta
Inseticida
Fez a pileca da vitela
Uma investida
E a salsicha "isidora"
é alheira de Mirandela
A que preço
está a couve
E o grão-de-bico
Bacalhau quase não há
Deu-lhe o fanico
Tenho prisão de ventre oh pá?
Eu já te explico
O feijão-frade subiu ao céu
Vende o penico
Se não há grelos no mercado
Há bons nabos no hemiciclo
Guarda a
roupa velha
Que sobra do almoço
Dá o braço à Maria
Ao Manel e ao Joaquim
Não vás devagarinho
Faz da praça um alvoroço
Leva-me contigo
Ai!! não te esqueças de mim
Rapariguinha
Cose a tua saia
Velha de cambraia
Que outra não podes comprar
Baixa a bainha
Rasga o pé-de-meia
Quando é magra a ceia
Quem nos há de aguentar
Oh bonitinha
A que preço
está o vinho
Nessa pipa
Arde o preço da aguardente
Queima a tripa
A água-pé é um detergente
Só constipa
Já não gosto da cerveja
Dessa tipa
E a jeropiga a martelo
é servida em bandeja
A que preço
está a casa
Nessa esquina
Não se aluga só se vende
é uma mina
Quem a vende tem juros
Lucros
Alucina
Quem não tem casa inventa
Imagina
Sonha ao relento é multado
Mora em barraca clandestina
Guarda a
roupa velha
Que sobra do almoço
Dá o braço à Maria
Ao Manel e ao Joaquim
Não vás devagarinho
Faz da praça um alvoroço
Leva-me contigo
Ai!! não te esqueças de mim
Rapariguinha
Cose a tua saia
Velha de cambraia
Que outra não podes comprar
Baixa a bainha
Rasga o pé-de-meia
Quando é magra a ceia
Quem nos há de aguentar
Oh bonitinha
Como vai a
nossa vida
De chinelo
Pelo custo não é festa
é um duelo
O cabaz da fome é caro
Magricela
Mais barato é o discurso
Tagarela
Nada diz nada acrescenta
Nem mexe o fundo à panela
Guarda a
roupa velha
Que sobra do almoço
Dá o braço à Maria
Ao Manel e ao Joaquim
Não vás devagarinho
Faz da praça um alvoroço
Leva-me contigo
Ai!! não te esqueças de mim
Rapariguinha
Cose a tua saia
Velha de cambraia
Que outra não podes comprar
Baixa a bainha
Rasga o pé-de-meia
Quando é magra a ceia
Quem nos há de aguentar
Oh bonitinha
Cose a tua
saia
Velha de cambraia
Que outra não podes comprar
Baixa a bainha
Rasga o pé-de-meia
Quando é magra a ceia
Quem nos há de aguentar
Oh bonitinha.
Geração Coca-Cola
Quando nascemos fomos programados
Para comer o que vocês nos empurraram
com os enlatados dos USA
das nove às seis
desde pequenos nós comemos lixo
comercial e industrial
mas agora chegou a nossa vez
vamos cuspir de volta todo o lixo
em cima de vocês!
Somos filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim, que deve ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
Aí então, vocês vão ver!
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema
Com as suas leis!
–
África! Ergue-te e caminha! A Luz é bela e
espera. Corre em teu corpo
a seiva bruta dá vida ao Homem e
alimenta a fera. – África! Ergue-te e caminha!
para
a luta! Teu corpo há muito
que é prostrado. Jovem tronco negro
e musculado...
Embora! Caminhemos lado a
lado quando chegar a
nossa hora. África! A Vida é tua e
minha. – Vamos! Ergue-te e caminha!