Digam-me como é uma árvore.
Digam-me o canto do rio quando se cobre de pássaros.
Falem-me do mar, falem-me do aromaaberto do campo,
das estrelas, do ar.
Recitem-me umhorizonte semfechadura e semchaves,
como a cabana de umpobre.
Digam-me como é o beijo de uma mulher. Dêem-me o nome do amor, não o recordo.
As noitesainda se perfumam
de apaixonados comtremores de paixãosob a Lua?
Ourestaapenas esta fossa,
a luz de uma fechadura e a canção das minhaslajes.
Vinte e doisanos… Já esqueço
a dimensão das coisas,
a suacor, o seuaroma… Escrevo
a tactear: «o mar», «o campo»…
Digo «bosques» e perdi
a geometria da árvore.
Falo, porfalar, de assuntos que os anosemmim apagaram
(não posso continuar, oiço
os passos do funcionário)
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