terça-feira, 23 de junho de 2009

Marcos Ana



«A vida»

Digam-me como é uma árvore.
Digam-me o
canto do rio
quando se cobre de pássaros.
Falem-me do
mar, falem-me do aroma aberto do campo,
das
estrelas, do ar.
Recitem-me
um horizonte
sem fechadura e sem chaves,
como a cabana de um pobre.

Digam-me como é o beijo
de uma
mulher. Dêem-me o nome
do
amor, não o recordo.

As noites ainda se perfumam
de apaixonados
com tremores
de
paixão sob a Lua?

Ou resta apenas esta fossa,
a
luz de uma fechadura
e a
canção das minhas lajes.

Vinte e dois anos esqueço
a
dimensão das coisas,
a
sua cor, o seu aroma… Escrevo

a tactear: «o mar», «o campo»…
Digo «
bosques» e perdi
a
geometria da árvore.

Falo, por falar, de assuntos
que os anos em mim apagaram

(não posso continuar, oiço
os
passos do funcionário)



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