sexta-feira, 10 de junho de 2011

"ceia de pobre, roupa remendada"

Vasco Gonçalves
(3/5/1922 - 11/6/2005)

O COMUM DA TERRA

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.

Quem conheça o sul e a sua transparência

também sabe que no verão pelas veredas da cal

a crispação da sombra caminha devagar.

De tantas palavras que disseste algumas se perdiam

outras duram ainda, são lume, breve arado,

ceia de pobre, roupa remendada.

Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão

era morada e instrumento de alegria.

Esse eras tu: inclinação da água. Na margem

vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade

a

Vasco Gonçalves, 14-5-76

1 comentário:

Maria disse...

Um belíssimo poema de Eugénio de Andrade. Parece que combinaram ir embora (quase) ao mesmo tempo.