sábado, 15 de março de 2014

O binómio de Newton - Álvaro de Campos

Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
-- Tirava os brincos do prego,
Casava c’um homem cego
E ia morar para a Estrela.

Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
-- (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.

E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
-- Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.

Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
-- Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.

*   *   *

Comunicado pelo Engenheiro Naval
Sr. Álvaro de Campos em estado
de inconsciência
alcoólica

O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

(Álvaro de Campos)

óóóó---óóóóóóóóó---óóóóóóóóóóóóóóó´

(O vento lá fora)

Álvaro de Campos

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