sábado, 30 de janeiro de 2016

O VIAJANTE CLANDESTINO/III - Daniel Filipe



O VIAJANTE CLANDESTINO/III*

Este é o local, o dia, o mês, a hora.
O jornal ilustrado aberto em vão.
No flanco esquerdo, o medo é uma espora
fincada, firme, imperiosa. Não
espero mais. Porquê esta demora?
Porquê temores, suores? Que vultos são
aqueles, além? Quem vive ali? Quem mora
nesta casa sombria? Onde estão
os olhos que espiavam ainda agora?
O medo, a espora, o ansiado coração,
a noite, a longa noite sedutora,
o conchego do amor, a tua mão…

Era o local, o dia, o mês, a hora.
Cerraram sobre ti os muros da prisão.


Daniel Filipe - 1973


*[Viver esta angústia para sentir o poema]

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