OS IRMÃOZINHOS
Pois eu, que no deserto dos caminhos,
Por ti me expunha imenso, contra as vacas;
Eu, que apartava as mansas das velhacas,
Fugia com terror dos pobrezinhos!
Vejo-os no pátio, ainda! Ainda os ouço!
Os velhos, que nos rezam padre-nossos,
Os mandriões que rosnam, altos, grossos;
E os cegos que se apoiam sobre o moço.
Ah! Os ceguinhos com a cor dos barros,
Ou que a poeira no suor mascarra,
Chegam das feiras a tocar guitarra,
Rolam os olhos como dois escarros!
E os pobres metem medo! Os de marmita,
Para forrar, por ano, alguns patacos,
Entrapam-se nas mantas com buracos,
Choramingando, a voz rachada, aflita.
Outros pedincham pelas cinco chagas;
E no poial, tirando as ligaduras,
Mostram as pernas pútridas, maduras,
Com que se arrastam pelas azinhagas!
Querem viver! E picam-se nos cardos;
Correm as vilas; sobem os outeiros;
E às horas de calor, nos esterqueiros,
De roda deles zumbem os moscardos.
Aos sábados, os monstros, que eu lamento,
Batiam ao portão com seus cajados;
E um aleijado, com os pés quadrados,
Pedia-nos de cima de um jumento.
O resmungão! Que barbas! Que sacolas!
Cheirava a migas, a bafio, a arrotos;
Dormia as noutes por telhados rotos,
E sustentava o burro a pão de esmolas.
2 comentários:
Obrigado
por continuares arauto
de poemas (quase) desconhecidos
Abraço amigo
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