sábado, 28 de maio de 2016

GENÉTICA - Aldo Luis Novelli



GENÉTICA

no coração da semente
está já desenhada a árvore futura
com seus frutos suas leves flores
até sua folha mais mínima.

no ADN do homem
estão escondidos seus sonhos
seus amores inconclusos
suas melhores derrotas
até a utopia mais infatigável.

a poesia
é essa bela rapariga
que abre a porta
um dia qualquer
ali
onde não havia porta.

Aldo Luis Novelli

(Trad. A.M.

GENÉTICA

en el núcleo de la semilla
ya está diseñado el futuro árbol
con sus frutos y sus leves flores
hasta su más mínima hoja.

en el ADN del hombre
están escondidos sus sueños
sus amores inconclusos
sus mejores derrotas
hasta su más infatigable utopía.

la poesía
es esa bella muchacha
que abre la puerta
un día cualquiera
allí
donde no había puerta.

Aldo Luis Novelli

sexta-feira, 27 de maio de 2016

"Vida terrena" - Félix Cucurull



"Vida terrena"
1966

QUERERIA saber se a vida também vos pesa
sobre os ombros. Se os vossos anseios
doem como um peso inútil ou vos levam à esperança.
Se perdidos entre enigmas mendigais às estrelas

uma resposta e sois, em permanente fuga
de vós próprios, eternos peregrinos
desnorteados, tacteando a poeira dos caminhos
buscando em vão a voz insistente que vos chama.

Saber se nas vossas noites o pálido clarão
da existência terrena terá cores de fábula,
e vos enche o peito com um leve tremor

chamejante que vos incendeia as palavras.
Saber se a vossa angústia procura no nosso horizonte
o afago dalgum mito que torne a dor mais suave.


(Tradução de António Macedo com a colaboração de Carlos Oliveira)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Levantados do Chão - Chico Buarque

Levantados do Chão

Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Como em baixo dos pés uma terra
Como água escorrendo da mão?

Como em sonho correr numa estrada?
Deslizando no mesmo lugar?
Como em sonho perder a passada
E no oco da Terra tombar?

Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Ou na planta dos pés uma terra
Como água na palma da mão?

Habitar uma lama sem fundo?
Como em cama de pó se deitar?
Num balanço de rede sem rede
Ver o mundo de pernas pro ar?

Como assim? Levitante colono?
Pasto aéreo? Celeste curral?
Um rebanho nas nuvens? Mas como?
Boi alado? Alazão sideral?

Que esquisita lavoura! Mas como?
Um arado no espaço? Será?
Choverá que laranja? Que pomo?
Gomo? Sumo? Granizo? Maná?


 


quarta-feira, 25 de maio de 2016

Somos cinco mil - Victor Jara


Somos cinco mil

nesta pequena parte da cidade. Somos cinco mil. Quantos seremos no total, nas cidades e em todo o país? Somente aqui, dez mil mãos que semeiam e fazem andar as fábricas.
Quanta humanidade com fome, frio, pânico, dor, pressão moral, terror e loucura!
Seis de nós se perderam no espaço das estrelas.
Um morto, um espancado como jamais imaginei que se pudesse espancar um ser humano.
Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores um saltando no vazio, outro batendo a cabeça contra o muro, mas todos com o olhar fixo da morte.
Que espanto causa o rosto do fascismo!
Colocam em prática seus planos com precisão arteira, sem que nada lhes importe.
O sangue, para eles, são medalhas.
A matança é ato de heroísmo.
É este o mundo que criaste, meu Deus? Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?
Nestas quatro muralhas só existe um número que não cresce, que lentamente quererá mais morte.
Mas prontamente me golpeia a consciência e vejo esta maré sem pulsar, mas com o pulsar das máquinas e os militares mostrando seu rosto de parteira, cheio de doçura.
E o México, Cuba e o mundo?
Que gritem esta ignomínia! Somos dez mil mãos a menos que não produzem.
Quantos somos em toda a pátria?
O sangue do companheiro Presidente golpeia mais forte que bombas e metralhas.
Assim golpeará nosso punho novamente.
Como me sai mal o canto quando tenho que cantar o espanto!
Espanto como o que vivo como o que morro, espanto.
De ver-me entre tantos e tantos momentos do infinito em que o silêncio e o grito são as metas deste canto.
O que vejo nunca vi, o que tenho sentido e o que sinto fará brotar o momento…”


Estádio de Chile, Setembro 1973

Seguiremos em luta pela memória das/os companheiras e companheiros que tombaram na luta e seguiremos com o sentimento de Unidade da América Latina.
Por Olga Veiga