CANTIGA DOS AIS - Armindo Mendes de Carvalho (vídeo Mário Viegas)
CANTIGA DOS AIS
Os ais de todos
os dias,
os ais de todas as noites.
Ais do fado e do folclore,
o ai do ó ai ó linda.
Os ais que vêm do peito,
ai pobre dele, coitado
que tão
cedo se finou!
Os ais que vêm da alma.
Ais d’amor e de comédia,
ai pobre da rapariga
que se deixou enganar…
ai a dor daquela mãe.
Os ais que vêm do sexo,
os ais do prazer na cama.
Os ais da pobre senhora
agarrada ao travesseiro
ai que saudades,
saudades,
os ais tão cheios
de luto
da viúva inconsolável.
Ai pobre daquele velhinho:
_ai que saudades
menina,
ai a velhice é tão triste.
Os ais do rico e do pobre
ai o espinho da rosa
os ais do António Nobre.
Ais do peito e da poesia
e os ais de outras coisas mais.
Ai a dor que
tenho aqui,
ai o gajo também
é,
ai a vida que
tu levas,
ai tu não
faças asneiras,
ai mulher és o demónio,
ai que terrível
tragédia,
ai a culpa é do António!
Ai os ais de tanta gente…
ai que já
é dia oito
ai o que vai ser
de nós.
E os ais dos liriquistas
a chorar compreensão?
ai que vontade
de rir.
E os ais de D. Dinis
Ai Deus e u é…
Triste de quem
der um ai
sem achar eco em ninguém.
Os ais da vida e da morte
Ai os ais deste país… Armindo Mendes de Carvalho
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