sexta-feira, 28 de julho de 2017

A UM REVOLUCIONÁRIO EUROPEU VENCIDO - Walt Whitman




A UM REVOLUCIONÁRIO EUROPEU VENCIDO

Ainda mais coragem, meu irmão ou irmã.
Não vaciles — a Liberdade tem de ser servida, haja o que houver;
Que importa que ela falhe uma vez, ou duas vezes, ou muitas vezes,
Ou seja ferida pela indiferença ou ingratidão do povo ou pela infidelidade,
Ou pelo aparato das mordaças do poder, soldados, canhões, códigos penais.
Aquilo em que nós cremos aguarda latente em todos os continentes,
A ninguém convida, não promete nada, repousa em calma e claridade, é teimoso e tranquilo, não conhece o desânimo,


Esperando com paciência, esperando a sua hora.
(Não é isto um canto de lealdade apenas,
Mas também cântico de insurreição,
Porque eu sou o poeta jurado do rebelde intrépido de toda a parte,
E quem vem comigo deixa para trás a paz e a rotina,
E arrisca-se a perder a vida a cada instante.)
A luta ruge em sobressalto e estrondo, avanço e retirada,
O inimigo triunfa ou julga que triunfa,
A prisão, o garrote, o cadafalso, as balas e as cadeias cumprem o seu dever,
Os heróis célebres ou obscuros passam a outras esferas,
Os grandes oradores e escritores são exilados, morrem de saudade em distantes terras.


A Causa dorme, as mais fortes vozes afogam-se no seu próprio sangue,
Os jovens baixam os olhos para o chão, quando se encontram,
Mas, apesar disto, a Liberdade não se foi embora, nem o inimigo tomou inteira posse.
A Liberdade, ao ir-se embora, não é o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro a partir,
Espera por todos os outros, é a última.


Quando já não houver memória dos heróis e dos mártires,
Quando as vidas e as almas de todos os homens e mulheres tiverem sido expulsas dessa parte da terra.
Só então a Liberdade ou a ideia de Liberdade será expulsa dessa parte da terra,
E o inimigo toma inteira posse.

Coragem, pois, revolucionário europeu!
Mesmo que tudo cesse, não cesses tu.

Não sei a que tu vens (não sei a que venho ou qualquer coisa vem).
Mas é o que procurarei cuidadosamente até em ser vencido,
Até na derrota e pobreza e fraude e prisão — porque também são grandes.

Julgávamos grande a vitória?
E é — mas agora parece-me, quando não há remédio, que a derrota é grande,
E que a morte e a amargura também são grandes.
 

Tradução de JORGE DE SENA

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