terça-feira, 11 de maio de 2021

W.C. - Armando Silva Carvalho


W.C.

Neste país onde ninguém sabe
como obram as musas,
já dizia o outro,
fazer versos realmente versos,
que sigam o espasmo do ânus provecto
dessas criaturas fúteis, decantadas,
ainda é e será muito difícil.

Existe sempre um braço etéreo
que puxa o autoclismo
no momento exacto da defecação.
Ouve-se um ruído,
alguém pergunta ao outro o que se passa:
«É o som das águas que bate na garganta.»
Aliviados então os corações repousam
na sala de visitas da casa devassada
a que chamam d'alma.

Armando Silva Carvalho

in 'Sentimento de um Acidental'

1 comentário:

brancas nuvens negras disse...

Grande poeta, um amigo de longa data que perdi.