HIROXIMA
Nos limites
da razão
onde os
homens produzem monstros
todos nos
sentimos escombros
do maior
terrorismo da História
humana.
Nasceu a
manhã mais cruel da mais
inocente
madrugada
a manhã mais
negra do que a noite
do absurdo.
O inferno rasgou
o sol e a lua
os rostos e
os braços
arrancou as
árvores
secou os
rios e as fontes
enchendo a
cidade de sangue e
corpos em
pedaços.
Um mar de
gente ... no corpo nu da
solidão
gente só...
no ventre da multidão
olhos
vidrados de lágrimas e pânico
correndo...
fugindo...
para onde...
para o nada...
para o
abismo da escuridão
sobre restos
de sonhos e pedaços de
vida
espalhados
pelo chão
onde a dor
fincou as garras
abafando os
gritos em catedrais de
cinzas.
O fim de
tudo entrou pelas portas e
janelas
e comeu
tudo...
comeu as
casas que caíram
as mãos que
deixaram de brincar
comeu os
olhos que deixaram de
olhar
e as bocas
que deixaram de respirar.
Tudo era
dentro e tudo era fora
na amplidão
do desespero
não havia
mães nem filhos nas
entranhas da
aflição
não havia
rumo nem caminho
no deserto
infindo da maldição.
Tudo se fez
pó
não ficou
pedra sobre pedra
e nem pedras
havia no chão
já o chão
não era chão
mas o fundo
abismo de uma cratera
onde tudo
era estendal de morte
sem porta de
entrada sem porta de
saída
sem tempo
sem norte sem vida
sem ruas sem
movimento
sem fímbria
de céu ou de mar.
O nada
entrou no coração
que deixou
de bater no peito de
muitos mil
ao peso de
cinquenta quilos de
urânio
e toneladas
de glória americana
erguendo até
ao cume da barbárie
a bandeira
mais cruel da natureza
humana.
Uma fria luz
de prata atravessou o
mundo
perfurou a
mente e as ideias
em seco
lamento de gemido sem
remédio
como latido
de cão atirado ao vento.
E o mundo
dormiu suavemente...
e ainda hoje
não acordou.
Entre
milhares de bombas e
estrondosos
hinos
o mundo de
olhos cegos e ouvidos
moucos
ainda
dorme...
nada mais
ouvindo que o silêncio dos
assassinos.
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