A paisagem cambiante
Das duas coisas
a lua
a outra é o
sol
os pobres
os trabalhadores não vêem essas coisas
o sol deles
é a sede o pó o suor o alcatrão
e quando
trabalham ao sol o trabalho esconde-lhes o sol
o sol deles
é a insolação
e o luar
para trabalhadores noturnos
é a bronquite
a farmácia as preocupações as chatices
e quando o
trabalhador adormece é embalado pela insónia
e quando o seu
despertador o acorda
encontra sempre
aos pés da cama
a carranca
do trabalho
que escarnece
e zomba dele
então ele levanta-se
então ele lava-se
e sai para
a rua semiacordado
caminha na
rua semiacordado semiadormecido
e apanha o
carro operário
e o carro operário
o condutor o revisor
e todos os
trabalhadores semiacordados semiadormecidos
atravessam
a paisagem petrificada entre a noite e a madrugada
a paisagem
de tijolo de janelas sem vidros de becos
a paisagem
eclipse
a paisagem
prisão
a paisagem
sem ar sem luz sem risos nem estações do ano
a paisagem gelada
dos bairros operários gelados tanto em pleno verão como em pleno inverno
a paisagem triste
a paisagem vazia
a paisagem
explorada aviltada engolida escamoteada
a paisagem
carvão
a paisagem pó
a paisagem óleo
a paisagem escória
a paisagem
castrada apagada mutilada degradada e atirada para a sombra
para a
grande sombra
a sombra do
capital
a sombra do
lucro
Nessa
paisagem por vezes brilha um astro
um único
o falso sol
o sol baço
o sol
escondido
sol cão do capital
o velho sol
de cobre
o velho
clarão
o velho sol
cibório
o velho sol
fístula
o odioso sol
do rei sol
o sol de
Austerlitz
o sol de
Verdun
o sol ídolo
o sol
tricolor e incolor
o astro das
catástrofes
o estro da pulhice
o astro da
matança
o astro da
estupidez
o sol morto.
E a
paisagem semiconstruída semidemolida
semiacordada
semiadormecida
desaba na
guerra na desgraça e no esquecimento
e depois recomeça
passada a guerra
reconstrói-se
a si mesma na sombra
e o capital
sorri
mas um dia há-de
vir o verdadeiro sol
um verdadeiro
sol quente e forte que despertará a paisagem entorpecida
e os
trabalhadores sairão para a rua
e então
verão o sol
o verdadeiro
o violento e vermelho sol da revolução
e eles
contar-se-ão
e compreender-se-ão
e verão o
seu número
e olharão a
sombra
e rirão
e avançarão
pela última
vez o capital quererá impedi-los de rir
eles matá-lo-ão
e enterrá-lo-ão
sob a paisagem da miséria
e a
paisagem da miséria dos lucros da poeira e do carvão
e queimarão
e arrasarão
a paisagem
de miséria de lucro de pó e de carvão
e cantando
construirão
uma paisagem
nova e bela
uma
verdadeira paisagem viva
farão
muitas coisas com o sol
e transformarão
mesmo o inverno em primavera.
Le paysage changeur
De deux choses lune
l’autre c’est le soleil
les pauvres les travailleurs ne voient pas ces choses
leur soleil c’est la soif la poussière la sueur le goudron
et s’ils travaillent en plein soleil le travail leur cache le soleil
leur soleil c’est l’insolation
et le clair de lune pour les travailleurs de nuit
c’est la bronchite la pharmacie les emmerdements les ennuis
et quand le travailleur s’endort il est bercé par l’insomnie
et quand son réveil le réveille
il trouve chaque jour devant son lit
la sale gueule du travail
qui ricane qui se fout de lui
alors il se lève
alors il se lave
et puis il sort à moitié éveillé à moitié endormi
il marche dans la rue à moitié éveillée à moitié endormie
et il prend l’autobus
le service ouvrier
et l’autobus le chauffeur le receveur
et tous les travailleurs à moitié réveillés à moitié endormis
traversent le passage figé entre le petit jour et la nuit
le paysage de briques de fenêtres à courants d’air de corridors
le paysage éclipse
le paysage prison
le paysage sans air sans lumière sans rires ni saisons
le paysage glacé des cités ouvrières glacées en plein été comme au cœur de
l’hiver
le paysage éteint
le paysage sans rien
le paysage exploité affamé dévoré escamoté
le paysage charbon
le paysage poussière
le paysage cambouis
le paysage mâchefer
le paysage châtré gommé effacé relégué et rejeté dans l’ombre
dans la grande ombre
l’ombre du capital
l’ombre du profit.
Sur ce paysage parfois un astre luit
un seul
le faux soleil
le soleil blême
le soleil couché
le soleil chien du capital
le vieux soleil de cuivre
le vieux soleil clairon
le vieux soleil ciboire
le vieux soleil fistule
le dégoûtant soleil du roi soleil
le soleil d’Austerlitz
le soleil de Verdun
le soleil fétiche
le soleil tricolore et incolore
l’astre des désastres
l’astre de la vacherie
l’astre de la tuerie
l’astre de la connerie
le soleil mort.
Et le paysage à moitié construit à
moitié démoli
à moitié réveillé à moitié endormi
s’effondre dans la guerre le malheur et l’oubli
et puis il recommence une fois la guerre finie
il se rebâtit lui-même dans l’ombre
et le capital sourit
mais un jour le vrai soleil viendra
un vrai soleil dur qui réveillera le paysage trop mou
et les travailleurs sortiront
ils verront alors le soleil
le vrai le dur le rouge soleil de la révolution
et ils se compteront
et ils se comprendront
et ils verront leur nombre
et ils regarderont l’ombre
et ils riront
et ils s’avanceront
une dernière fois le capital voudra les empêcher de rire
ils le tueront
et ils l’enterreront dans la terre sous le paysage de misère
et le paysage de misère de profits de poussières et de charbon
ils le brûleront
ils le raseront
et ils en fabriqueront un autre en chantant
un paysage tout nouveau tout beau
un vrai paysage tout vivant
ils feront beaucoup de choses avec le soleil
et même ils changeront l’hiver en printemps.
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