quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

CHAMADA DA TUMBA - Mahmud Darwich

CHAMADA DA TUMBA

 

Em memória do massacre de Kafr Kassem [29 de outubro 1956]

 

I

 

Minha morte aconteceu há oito anos

Tenho a mesma idade de meu pai

Chamamos a todos os viventes

A todos os que querem viver por muito tempo

Sobre a terra

Não debaixo dela

A todos os que querem

Que o trigo madure em seu campo

Semear e colher

Que a massa fermente em seus lares

Fazer o pão e comê-lo

Nós lhes pedimos: não durmam

Se querem viver por muito tempo

Sobre a terra

Não debaixo dela

Montem guarda... aqui o sol é de barro e miséria

Nossa idade se conta em anos de morte

Minha morte aconteceu há oito anos

Tenho a mesma idade de meu pai

 

II

 

Dizemos-lhes

Não queremos sobre nossas tumbas

Nem água nem flores

Nada está vivo aqui

Apenas os casulos de víbora e os vermes

Dizemos-lhes

Não queremos roupas de luto

Não há na tumba outra cor

Que a preta

Dizemos-lhes

Não queremos canções tristes

Intermináveis

Dormimos aqui

E nosso retorno é impossível

Dizemos-lhes

Cantem pela terra que permanece

Rebelem-se

Ensinem nossa história sombria

Aos filhos

A fim de que nosso sangue

Permaneça na bandeira dos criminosos

Como sinal de catástrofe

Pedimos-lhes

Protejam os fracos das balas

Para que os que vivam fiquem salvos

E os que nascerão no futuro

Ainda goteja a fonte do crime

Obstruam-na

E permaneçam vigilantes

Prontos para o combate

Mahmud Darwich

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