domingo, 2 de junho de 2024

Abril nos dedos - Renata Correia Botelho

Abril nos dedos


As canções estão tão sozinhas

como nós: amigo, povo, vila morena

são agora memória e urgência

nesta escarpa de jugo simulando probidade.

 

Tudo se perde, nada se transforma, é imenso

e escuro o inverno que tememos aí vir:

ao ódio sucede o ódio sucede o ódio,

a palavra mais solitária do mundo.

 

Não nos peçam que saibamos respirar

se o lodo nos tapar o coração. Á cautela,

guardemos um bolso de trevos, abril nos dedos

e um grito de atalaia para serrar a noite.

 

Renata Correia Botelho

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