terça-feira, 25 de junho de 2024

UM PENSAMENTO ME PERTURBA - Sandor Petöfi


UM PENSAMENTO ME PERTURBA

Um Pensamento me perturba e faz sofrer:

Na cama entre lençóis morrer!

Lentamente, como flor murchando,

Em si dentro secreto insecto ruminando;

Lentamente minha vida como vela a encurtar

Num canto de quarto vazio morrendo a se apagar!…

Deus, Deus meu, não me deis tal morte!

Não! meu Deus, não tal morte!

Faz-me como árvore pelo raio fulminada

Ou, no temporal, pelos ventos desenraizada…

Ou rocha que terramoto dos altos faz rolar

Tremendo céus e terra pelo seu caminhar… –

Quando todo o escravizado povo, seu jugo odiando

Se vai do combate aos campos lançando,

Os rostos, quais rubras bandeiras, já enrubescidos,

E em tais pendões os gritos de combate escritos.

“O mundo libertar!” –

Tal grito a ressoar

De leste a oeste trovejando,

E contra o povo a tirania esbravejando –

Lá quero tombar, lá!

No campo de batalha, lá!

Lá, do meu coração que jorre o sangue

E as últimas palavras brotem de minha boca exangue:

Lá, engolidas elas sejam pelo aço a tilintar,

Pelo som das trombetas, canhões a troar

Lá, meu mortal corpo atravessando,

Corcéis passem relinchando,

Pela final vitória lograda ficando

Espezinhado, lá, meus ossos espalhados:

Se hão-de vir os funerais esperados,

Músicas lentas e solenes entoadas

Drapejando as bandeiras enlutadas –

E, heróis, da vala comum irão ao fundo

Mortos por ti, do mundo Santa liberdade!

 Sandor Petöfi.

(Pest, Dezembro 1846)

(traduzido por José Blanc de Portugal)

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