sábado, 14 de setembro de 2024

ODE AO HOMEM SIMPLES - Pablo Neruda

ODE AO HOMEM SIMPLES

Vou contar-te em segredo
quem sou eu,
assim, em voz alta
dir-me-ás quem és,
quanto ganhas,
em que fábrica trabalhas,
em que mina,
em que farmácia,
tenho uma obrigação terrível:
e é saber,
saber tudo,
dia e noite saber
como te chamas,
é esse o meu ofício,
conhecer uma vida
não basta,
nem conhecer todas as vidas,
é necessário,
verás,
há que desentranhar,
raspar profundamente
e como numa tela
as linhas ocultaram,
com a sua cor, a trama
do tecido,
eu apago as cores
e busco até achar
o tecido profundo,
assim também encontro
a unidade dos homens,
e no pão
busco
para além da forma:
gosto do pão, mordo-o,
e então
vejo o trigo
os trigais temporões,
a verde forma que tem a Primavera,
as raízes, a água,
por isso
para além do pão,
vejo a terra,
e a sua unidade,
a água,
o homem,
e tudo provo assim
buscando-te
em tudo,
ando, nado, navego,
até encontrar-te,
e pergunto-te então
como te chamas,
a rua e o número,
para que recebas
as minhas cartas,
para que te diga
quem sou e quanto ganho,
onde vivo,
e como era o meu pai.
Vês como sou simples,
e como és simples,
não se trata
de nada complicado,
eu trabalho contigo,
tu vives, vais e vens,
de um lado para o outro,
é muito simples:
és a vida,
és transparente
como a água,
e sou assim também,
o meu dever é esse:
ser transparente,
todos os dias
me educo,
todos os dias me penteio
a pensar como pensas,
e ando
como andas,
como, como tu comes,
tenho nos braços o meu amor
como tens a tua namorada,
e então
quando isto está provado,
quando somos iguais
escrevo,
escrevo com a tua vida e com a minha,
com o teu amor e com os meus,
com todas as tuas dores
e então
já somos diferentes,
porque, com a mão sobre o teu ombro,
como velhos amigos
digo-te ao ouvido:
não sofras,
está perto o dia,
vem,
vem comigo,
vem
com todos
os que se parecem contigo,
os mais simples,
vem,
não sofras,
vem comigo,
porque, embora o não saibas,
isso, sim, sei-o eu:
sei para onde vamos,
e esta é a palavra:
não sofras
pois venceremos,
havemos de vencer,
ou mais simples, nós,
venceremos,
mesmo que não o creias,
venceremos.


Pablo Neruda

,"Odes Elementares",1954
(tradução: José Bento

 

 

 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

CARREGADORES - RUI DE NORONHA

CARREGADORES

A pena que me dá ver essa gente
Com sacos sobre os ombros, carregadíssima!...
Às vezes é meio-dia, o sol tão quente,
E os fardos a pesar, Virgem Santíssima!...

À porta dos monhés*, humildemente,
Mal a manhã desponta a vir suavíssima,
Vestindo rotas sacas, tristemente
Lá vão 'spreitando a carga pesadíssima...

Quantos, velhinhos já, avós talvez.
Dez vezes, vinte vezes, lés a lés
Num dia só percorrem a cidade!

Ó negros! Que penoso é viver
A vida inteira aos fardos de quem quer
E na velhice ao pão da caridade...

 

RUI DE NORONHA

*Monhés – lojas de comerciantes indianos (ou mestiço de indiano com negro).

 

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

SALVADOR ALLENDE, por PABLO NERUDA

 

   SALVADOR ALLENDE, por PABLO NERUDA

Salvador Allende e Pablo Neruda

Salvador Allende, por Pablo Neruda

(último capítulo das memórias de Pablo Neruda, confesso que vivi)

Meu povo tem sido o mais atraiçoado deste tempo. Dos desertos do salitre, das minas submarinas do carvão, das alturas terríveis onde jaz o cobre e onde as mãos de meu povo os extraem com trabalho desumano, surgiu um movimento libertador de importância grandiosa. Esse movimento levou à presidência do Chile um homem chamado Salvador Allende para que realizasse reformas e medidas de justiça inadiáveis, para que resgatasse nossas riquezas nacionais das garras estrangeiras.

Onde estive, nos países mais longínquos, os povos admiraram o Presidente Allende e elogiaram o extraordinário pluralismo de nosso governo. Jamais na história da sede das Nações Unidas em Nova Iorque se escutou uma ovação como a que os representantes de todo o mundo proporcionaram ao presidente do Chile.

Aqui no Chile estava se construindo, entre imensas dificuldades, uma sociedade verdadeiramente justa, erguida sobre a base de nossa soberania, de nosso orgulho nacional, do heroísmo dos melhores habitantes do Chile. Do nosso lado, do lado da revolução chilena, estavam a constituição e a lei, a democracia e a esperança.

Do outro lado não faltava nada. Tinham arlequins e polichinelos, palhaços a granel, terroristas de pistola e prisão, monges falsos e militares degradados. Uns e outros davam voltas no carrossel do despeito. O fascista Jarpa ia de mãos dadas com seus sobrinhos de “Pátria e Liberdade”, dispostos a quebrar a cabeça e a alma de tudo quanto existe, com o propósito de recuperar o grande latifúndio que eles chamavam Chile. Junto com eles, para amenizar a farandula, dançava um grande banqueiro e dançarino, um tanto manchado de sangue. Era o campeão de rumba González Videla, que rumbeando entregou faz tempo seu partido aos inimigos do povo. Agora era Frei quem oferecia seu partido democrata-cristão aos mesmos inimigos do povo, dançando segundo a música deles, dançando além disso com o ex-coronel Viaux, de cuja canalhice foi cúmplice. Estes eram os principais artistas da comédia. Tinham preparados os víveres do monopólio, os “miguelitos”, os garrotes e as mesmas balas que há pouco tempo feriram de morte nosso povo em Iquique, em Ranquín, em Salvador, em Puerto Montt, em José María Caro, em Frutillar, em Puente Alto e em tantos outros lugares. Os assassinos de Hernán Mery dançavam com os que deveriam defender sua memória. Dançavam com naturalidade, hipocritamente. Sentiam-se ofendidos quando lhes reprovavam esses “pequenos detalhes”.

O Chile tem uma longa história civil com poucas revoluções e muitos governos estáveis, conservadores e medíocres. Muitos presidentes menores e somente dois grandes presidentes: Balmaceda e Allende. É curioso que os dois provinham do mesmo meio, da burguesia endinheirada, que aqui chamamos aristocracia. Como homens de princípios, empenhados em engrandecer um país diminuído pela oligarquia medíocre, os dois foram conduzidos à morte da mesma maneira. Balmaceda foi levado ao suicídio por resistir na entrega da riqueza salitreira às companhias estrangeiras.

Allende foi assassinado por ter nacionalizado a outra riqueza do subsolo chileno, o cobre. Em ambos os casos, a oligarquia chilena organizou revoluções sangrentas. Em ambos os casos os militares fizeram o papel de matilha. As companhias inglesas no período de Balmaceda e as norte-americanas no período de Allende favoreceram estes movimentos militares.

 Em ambos os casos, as casas dos presidentes foram saqueadas por ordem de nossos distinguidos “aristocratas”. Os salões de Ralmaceda foram destruídos a golpes de machado. A casa de Allende, graças ao progresso, foi bombardeada do ar por nossos heróicos aviadores.

No entanto, estes dois homens foram muito diferentes. Balmaceda foi um orador cativante. Tinha um temperamento imperioso que o aproximava cada vez mais da autoridade unipessoal. Estava seguro da elevação de seus propósitos. A todo instante se viu rodeado de inimigos. Sua superioridade sobre o meio em que vivia era tão grande e tão grande sua solidão que acabou por se reconcentrar em si mesmo. O povo que devia ajudá-lo não existia como força, quer dizer, não estava organizado. O presidente estava condenado a se conduzir como um iluminado, como um sonhador: seu sonho de grandeza ficou no sonho. Depois de seu assassinato, os vorazes mercadores estrangeiros e os parlamentares criollos se apossaram do salitre. Para os estrangeiros, a propriedade e as concessões; para os criollos, os subornos. Recebidos os trinta dinheiros, tudo voltou à normalidade. O sangue de uns quantos milhares de homens do povo secou logo nos campos de batalha. Os operários mais explorados do mundo, os das regiões do Norte do Chile, não cessaram de produzir imensas quantidades de libras esterlinas para a City de Londres.

Allende nunca foi um grande orador. E como estadista era um governante que fazia consultas antes de tomar qualquer medida. Foi o antiditador, o democrata por princípio até nos menores detalhes. Coube-lhe um país que já não era a nação inexperiente de Balmaceda; encontrou uma classe operária poderosa que sabia o que estava fazendo. Allende era um dirigente coletivo; um homem que, sem sair das classes populares, era um produto da luta dessas classes contra o imobilismo e a corrupção de seus exploradores. Por tais motivos e razões, a obra que Allende realizou em tão curto tempo é superior à de Balmaceda; mais ainda, é a mais importante da história do Chile. Só a nacionalização do cobre foi uma empresa titânica. E a destruição dos monopólios, a profunda reforma agrária e muitos objetivos mais que foram cumpridos sob seu governo de essência coletiva.

As obras e os feitos de Allende, de indelével valor nacional, enfureceram os inimigos de nossa liberação. O simbolismo trágico desta crise se revela no bombardeio do palácio do governo. A gente evoca a blitzkrieg, da aviação nazista contra indefesas cidades estrangeiras, espanholas, inglesas, russas. Agora sucedia o mesmo crime no Chile; pilotos chilenos atacavam em piquê o palácio que durante dois séculos foi o centro da vida civil do país.

Escrevo estas rápidas linhas para minhas memórias há apenas três dias dos fatos inqualificáveis que levaram à morte meu grande companheiro, o Presidente Allende (nota ditirâmbica: assassinado após um golpe militar em 11 de setembro de 1973). Seu assassinato foi mantido em silêncio, foi enterrado secretamente, permitiram somente à sua viúva acompanhar o imortal cadáver. A versão dos agressores é que acharam seu corpo inerte, com mostras visíveis de suicídio. A versão que foi publicada no estrangeiro é diferente. Após o bombardeio aéreo, vieram os tanques, muitos tanques, para lutar intrepidamente contra um só homem: o Presidente da República do Chile, Salvador Allende, que os esperava em seu gabinete, sem outra companhia a não ser seu grande coração envolto em fumaça e chamas.

Não podiam perder uma ocasião tão boa. Era preciso metralhá-lo porque jamais renunciaria a seu cargo. O corpo foi enterrado secretamente num lugar qualquer. O cadáver que foi para a sepultura acompanhado por uma única mulher, que levava em si mesma toda a dor do mundo, a gloriosa figura morta ia crivada e despedaçada pelas balas das metralhadoras dos soldados do Chile, que outra vez tinham atraiçoado o Chile.

Pablo Neruda, tradução de Olga Savary.

domingo, 8 de setembro de 2024

René Depestre - Minério negro

 

Minério negro

Quando seco pelo sol o suor do índio
…………esgotou-se
quando a febre d’ouro drenou a derradeira
…………gota de sangue índio
varrendo do entorno das minas d’ouro todo Índio
…………nos voltamos ao veio muscular d’África
…………para garantir a emersão da miséria
então começou o assalto à infinda riqueza
…………da carne negra
então começou o desordenado ataque ao
…………radiante esplendor do corpo negro
e toda a terra retumbou ao retinir do alvião
…………na densidade do minério negro
e tudo bem se químicos não pensassem em meios
…………de obter uma preciosa liga
do metal negro
tudo bem se as damas não sonhassem com batedeiras
…………de cozinha em negra do Senegal serviços de chá
…………em maciço negrinho das Antilhas
tudo bem se um pároco audacioso não prometesse à sua
…………paróquia
um sino soldado
…………na sonoridade
……………………do sangue negro
ou se algum valente capitão
……………………não talhasse sua espada
………………………………no ébano mineral
ou ainda se algum bravo Papai Noel
……………………não sonhasse soldadinhos
………………………………em chumbo negro
……………………para sua anual visita.
Toda a terra retiniu ao abalo das brocas
…………na entranhas de minha raça na
……………………jazida muscular
………………………………do
……………………homem negro.
Eis os numerosos séculos que
……………………duram a extração
……………………das maravilhas
……………………desta raça.
Ó tálamos metálicos do meu povo
minério inesgotável do rocio humano
quantos piratas exploraram suas armas
as profundezas obscuras de tua carne
quantos flibusteiros abriram caminhos
pela rica vegetação
……………………de clarezas de teu corpo
espalhando teus anos de troncos mortos
………………………………e poças de pranto
Povo despojado povo todo assim revirado
……………………como a terra
………………………………lavorada
povo devastado para o enriquecimento das grandes feiras
……………………………………………………do mundo
Amadureces teu grisu no segredo de tua noite corporal
…………ninguém mais ousará lançar canhões
…………e moedas de ouro no negro metal de tua cólera em cheia!

René Depestre

(Trad. ernesto von artixzffski)

 

Minerai noir
(de Minerai Noir, 1952)

Quand la sueur se trouva brusquement
…………tarie para le soleil
quand la frénésie de l’or draîna au marché la dernière
…………goutte de sang indien
de sorte qu’il ne resta plus un seul Indien
…………aux alentours des mines d’or
on se tourna vers le fleuve musculaire de l’Afrique
…………pour assurer la relève du désespoir
alors commença la ruée vers l’inépuisable trésorerie
…………de la chair noire
alors commença la bousculade échevelée vers le
…………rayonnant midi du corps noir
et toute la terre retentit du vacarme des pioches
…………dans l’épaisseur du minerai noir
et tout juste si des chimistes ne pensèrent aux
…………moyens d’obtenir quelque alliage précieux
avec le métal noir
tout juste si des dames ne rêvèrent d’une batterie
………….de cuisine en nègre du Sénégal d’un service
………….à thé en massif négrillon des Antilles
tout juste si quelque audacieux curé ne promit à sa
…………..paroisse
une cloche coulée
…………dans la sonorité
……………………du sang noir
ou si quelque vaillant capitaine
……………………ne tailla son épée
………………………………dans l’ébène minéral
ou encore si un brave Père Noël
………….ne songea à des petits soldats
………………………………de plomb noir
…………pour sa vie annuelle.
Toute la terre retentit de la secousse des foreuses
…………dans les entrailles de ma race dans
……………………le gisement musculaire
…………………………………………de
………………………………l’homme noir.
Voilà de nombreux siècles
………………………………que dure l’extraction
…………………………………………des merveilles
…………………………………………de cette race.
Ô couches métalliques de mon peuple
minerai inépuisable de rosée humaine
combien de pirates ont exploré de leurs armes
les profondeurs obscures de ta chair
combien de flibustiers se sont frayé leur chemin
à travers la riche végétation de
…………………………………………clartés de ton corps
jonchant tes années de tiges mortes
…………………………………………et de flaques de larmes
Peuple dévalisé peuple de fond en comble retourné
……………………comme une terre
…………………………………………en labours
peuple défriché pour l’enrichissement des grandes foires
……………………………………………………du monde
Mûris ton grisou dans le secret de ta nuit corporelle
…………nul n’osera plus couler des canons
…………et des pièces d’or dans le noir métal de ta colère en crues!

 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Agostinho da Silva - Queria que os Portugueses

Agostinho da Silva (1906-1994)

 

Queria que os Portugueses

 

Queria que os portugueses 
tivessem senso de humor 
e não vissem como génio 
todo aquele que é doutor 

sobretudo se é o próprio 
que se afirma como tal 
só porque sabendo ler 
o que lê entende mal 

todos os que são formados 
deviam ter que fazer 
exame de analfabeto 
para provar que sem ler 

teriam sido capazes 
de constituir cultura 
por tudo que a vida ensina 
e mais do que livro dura 

e tem certeza de sol 
mesmo que a noite se instale 
visto que ser-se o que se é 
muito mais que saber vale 

até para aproveitar-se 
das dúvidas da razão 
que a si própria se devia 
olhar pura opinião 

que hoje é uma manhã outra 
e talvez depois terceira 
sendo que o mundo sucede 
sempre de nova maneira 

alfabetizar cuidado 
não me ponham tudo em culto 
dos que não citar francês 
consideram puro insulto 

se a nação analfabeta 
derrubou filosofia 
e no jeito aristotélico 
o que certo parecia 

deixem-na ser o que seja 
em todo o tempo futuro 
talvez encontre sozinha 
o mais além que procuro. 

Agostinho da Silva

terça-feira, 3 de setembro de 2024

HANAN AWAD حنان عواد É TEMPO DO CAVALEIRO TRIUNFAR

 

HANAN AWAD  حنان عواد

 

É TEMPO DO CAVALEIRO TRIUNFAR 

À sombra das oliveiras

Na folhagem do limoeiro

Nos olhos dos pássaros

Nas lágrimas das crianças

Procuro-te

No cume do vulcão vermelho

Sobre a terra plantada de tomilho

Ó minha grande alegria

Ó minha imensa alegria

Ó pátria da tristeza, irrompe em erupção!

Se prestarmos culto a outros deuses

À sombra das tuas cinzas

Seremos pendurados na forca!

Poderemos esquecer

Que pertencemos à terra em gestação?

Poderemos esquecer

Que provimos de uma raiz mais profunda?

Ó pátria da tristeza, irrompe em erupção!

Ó pátria da tristeza, irrompe em erupção!

Guevara, aproxima-se.

O revolucionário de rosto tisnado

Desencadeia a insurreição.

Guevara beija-lhe a testa

E vislumbra leões invencíveis.

Gaza, ó minha mãe

 

 HANAN AWAD

 


domingo, 1 de setembro de 2024

O Medo Manda - Eduardo Galeano

 



O Medo Manda


Habitamos um mundo governado pelo medo, o medo manda, o poder come medo, o que seria do poder sem medo? Sem o medo que o próprio poder gera para se perpetuar.

A fome come medo ao peque-almoço.
O medo ao silêncio que atordoa as ruas.
O medo ameaça.
Se ama, terá sida.
Se fuma, terá cancro.
Se respira, será contaminado.
Se bebe, terá acidentes.
Se come, terá colesterol.
Se fala, terá desemprego.
Se anda, terá violência.
Se pensa terá angústia.
Se duvida, enlouquece.
Se sentir terá solidão.
 

Eduardo Galeano

El Miedo Manda

Habitamos un mundo gobernado por el miedo, el miedo manda, el poder come miedo, ¿qué sería del poder sin el miedo? Sin el miedo que el propio poder genera para perpetuarse.

El hambre desayuna miedo.
El miedo al silencio que aturde las calles.
El miedo amenaza.
Si usted ama tendrá sida.
Si fuma tendrá cáncer.
Si respira tendrá contaminación.
Si bebe tendrá accidentes.
Si come tendrá colesterol.
Si habla tendrá desempleo.
Si camina tendrá violencia.
Si piensa tendrá angustia.
Si duda tendrá locura.
Si siente tendrá soledad.