sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A OLIVEIRA FOI UMA VEZ - Mahmud Darwich

A OLIVEIRA, FOI UMA VEZ..

A oliveira foi uma vez um bosque verde.

Foi, amado, e o ceio

um bosque azul.

Que os fizera mudar esta tarde?

Detiveram a camioneta dos operários a meio do caminho.

(Tranquilamente)

Durante algum tempo, o meu coração foi um passarinho azul.

Ó ninho do meu amado!

Comigo, brancos de todo os teus panos

foram, meu querido...

Que pude lavá-los esta tarde?

Porque eu nada entendo.

Retiveram o camião dos operários no meio do caminho.

(Tranquilamente)

E puseram-nos olhando para o Oriente.

(Tranquilamente)

Tens todas as minhas coisas:

a claridade, a sombra,

o anel de casamento, o que desejares,

o vale de oliveiras e figueiras.

Pela janela, penetrando no teu sonho,

achegar-me-ei junto a ti como todas as noites

e arremessar-te-ei um cravo.

Mas, não me repreendas se demoro um bocado,

pois me detiveram...

O olival estava sempre verde

(Estava, meu amado)

Mas, cinquenta vítimas

tornaram-no uma poça vermelha à tardinha.

Cinquenta, meu amado...

Mas, não me repreendas:

Assassinaram-me...

Assassinaram-me...

Assassinaram-me...

Mahmud Darwich


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