terça-feira, 17 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um tiro no alvo


"quem rouba um poema não merece castigo"

Aos filhos da puta


A
todos os que se vendem e abandalham
a
todos os que crêem que são os únicos
os
melhores e a elite entre os demais e
se pavoneiam na
sua imbecilidade estonteante
intelectuais de pacotilha e militantes da mediocridade
a
todos que se aplaudem em salamaleques de familiaridades
e consanguinidades de
palavras para aplauso umbilical
aos
curtos de vista viscerais defensores da pequenez
provinciana travestida de
francesismos e transatlânticas
vitualhas literárias a
peso ou a metro milimetricamente
deglutidas
entre croquetes e champanhes de imitação
pechisbeques de
cabeças vazias embevecidas na vã cegueira
dos
que se acreditam os únicos olhos como se em terra de cegos vivessem

ergo a
minha taça
e
desejo que a terra lhes seja pesada aos ossos
fragilizados de
tanto curvar a cerviz
em cansaços vividos na inverdade da sua académica peralvilhice

bebo aos
filhos de puta
aos inúteis
aos
sem afectos
aos
sem memória
aos
medíocres
à
matilha e à corja
bebo a
todos os filhos de puta
mas bebo de aos filhos de puta maiores
a
todos eles e aos que me enojam

Fátima Pinto Ferreira

publicado no
seu blog...
Forja de Palavras

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Acreditem, disse-a Angela Merkel


09/11/09

A frase do dia

Acreditem, disse-a Angela Merkel


Raramente tão poucas palavras disseram tanto ou, pelo menos, propiciam tantas reflexões sobre quem diz e porque o diz e que, sendo quem é e vindo de onde veio, é capaz afrontar neste termos um dominante mundo de clichés, caricaturas e simplificações. Essas palavras estão hoje no final de uma peça na página 6 do Público e foram ditas pela actual Chanceler da República da Alemanha, Angela Merkel, cuja família - segundo biografia no mesmo jornal se mudou em 1954 da República Federal Alemã para a República Democrática Alemã.

«No entanto, se era uma ditadura do proletariado,
"não era tudo preto ou branco", concluiu Merkel.
"
Eu era feliz, e não quero esquecer
esses 35 anos da minha vida
"

domingo, 8 de novembro de 2009

Álvaro Cunhal


10 de Novembro de 1913

Poema que Pablo Neruda dedicou a Álvaro Cunhal, então preso, em 1953

La Lámpara Marina

I


El Puerto Color de cielo

Cuando tú desembarcas
en Lisboa,
cielo
celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las
casas,
las puertas,
los techos,
las
ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del
azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes
que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de
luto,
retóricos, correctos,
arreando
presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo
ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la
sombra.

II


La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la
espuma de Europa,
con la
cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las
bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

III


Los presidios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie
nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas
como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó
Bento Gonçalves,
el portugués más
puro,
el honor de
tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la
Sal,
y Tarrafal en ella
vierte
sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal,
sino la tierra.
Sí, sabemos,
en
remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa
como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal,
tu triste trino,
salpica
tu dulzura
con
gotas de martirio
y mantiene sus
cúpulas de sombra.


IV


El Mar Y Los Jazmines

De
tu mano pequeña en otra hora
salieron
criaturas
desgranadas
en el asombro de la
geografia.
Así volvió Camoens
a dejarte
una rama de jazmines
que siguió floreciendo.
La inteligencia ardió
como una viña
de
transparentes uvas
en
tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas
dejó caer su trueno
de libertad bravía
que transportó el océano en su canto,
y otros multiplicaron
tu esplendor de rosales y racimos
como si de tu territorio estrecho
salieran
grandes manos
derramando semillas
para toda la tierra.

Sin
embargo,
el tiempo
te ha enterrado.
El
polvo clerical
acumulado en Coimbra
cayó en
tu rostro
de naranja oceánica
y cubrió el
esplendor de tu cintura.

V


La Lámpara Marina

Portugal,
vuelve al
mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a
tu fragancia,
a
tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la
luz matutina
del clavel y la
espuma.
Muéstranos
tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más
tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.

La
súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la
aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de
auroras.
Cómo es
esto?
Cómo puedes negarte
al
ciclo de la luzque mostraste
caminos a los ciegos?

Tú, dulce y
férreo y viejo,
angosto y
ancho padre
del
horizonte, cómo
puedes
cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del
Oriente?

Proa de Europa, busca
en la corriente
las
olas ancestrales,
la
marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de
tus hijos
aquellos
para quienes
descubriste la
arena
hasta entonces oscura
de la geografía
deslumbrante,
muéstranos
que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo
mar oscuro
y descubrir al hombre
que ha nacido
en las islas más
grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la
hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y
entre las islas y los hombres vuelve
a
ser camino.

En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a
ser estrella.


Pablo Neruda


Poema extraído de Obras Completas, 3ª ed. aumentada,

Buenos Aires, Editorial Losada, Col. Cumbre, 1967



terça-feira, 3 de novembro de 2009

Bernardo Soares - Fernando Pessoa


Bernardo Soares

Inconsciência

O ódio entre católicos e protestantes, o entre católicos e maçons, o entre cristãos e livres-pensadores modernos, tudo isso tem a ferocidade e o disparatado do ódio entre seitas da mesma religião. Não acabou nunca a luta entre seitas crististas que dura desde o aparecimento do próprio que, quando nos surge na história, nos surge bipartido nas seitas paulina e petrista. O cristismo é essencialmente dividido. cristismo,

Toda a linha da evolução do cristismo, quecomo vimos — alcança todos os movimentos, por pouco cristãos que pareçam, da história moderna, é representada por uma série incoerente de cisões por um encadeamento desconexo de inimizades e de desinteligências . e subcisões,

A fatalidade de degenerescência que persegue, como uma maldição, os escarnecedores dos Deuses, rói sempre a própria substância humana interior ao cristismo sobreposto ou, após tantos séculos, infelizmente intraposto.


Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação.

Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Prémio PEN Club para Manuel Gusmão

Um Poeta Comprometido

Prémio PEN Club

A SOMBRA NOS MAPAS: O TEMPO

o brilho inapagável de um gesto suspenso

e depois a bruma no lugar do rosto que não está.

não saberemos nunca como repetir tal brilho

nem como pedir-te essa metamorfose do terceiro corpo

que voa oblíquo no sobressalto destes dois nossos

e incandesce no passado que toda a morte não promete.

Tens uns joelhos assim.

nãoluz que chegue para dizer o que nos pode fazer

um mar atravessado nos ombros e caindo como a noite

dessa cabeça nocturna, em chamas.

Manuel Gusmão

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Parasitas - O Papão

PARASITAS

No meio duma feira, uns poucos de palhaços

Andavam a mostrar, em cima dum jumento

Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,

Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,

Exploravam assim a flor do sentimento,

E o monstro arregalava os grandes olhos baços,

Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:

Deram esmola até mendigos quase nus.

E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da cruz,

Que andais pelo universo, há mil e tantos anos,

Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

O PAPÃO

As crianças têm medo à noite, às horas mortas,

Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,

Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.

Não te rias da infância, ó velha humanidade,

Que tu também tens medo ao bárbaro papão,

Que ruge pela boca enorme do trovão,

Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,

Um papão que não faz a barba há seis mil anos,

E que mora, segundo os bonzos têm escrito,

Lá em cima, detrás da porta do infinito!

Guerra Junqueiro

(A Velhice do Padre Eterno)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Não esqueçam para que não sejam esquecidos

ajudar a construir o futuro
com
a
CDU


não serão esquecidos

têm sido a preocupação primeira das nossas autarquias
QUE VIVAM AS CRIANÇAS COM A DIGNIDADE QUE A TODOS É DEVIDA

domingo, 4 de outubro de 2009

Mercedes Sosa - Gracias

http://www.youtube.com/watch?v=h0QFkpUhBFo

La Cigarra


Tantas veces me mataron
Tantas veces
me morí
Sin
embargo estoy aquí

Resucitando
Gracias doy a la desgracia
Y a la mano con puñal
Porque me mató tan mal
Y seguí cantando


Cantando al sol

como la cigarra
Después de un año

Bajo la tierra
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra


Tantas veces me borraron
Tanta desaparecí
A mi propio entierro fui
Sola y llorando
Hice un nudo en el pañuelo
Pero me olvidé después
Que no era la única vez

Y seguí cantando

Cantando al
sol

Como la cigarra
Después de un año

Bajo la tierra

Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra

Tantas veces
te mataron
Tantas resucitarás
Cuantas noches pasarás

Desesperando

Y a la hora del naufragio
Y la de la oscuridad
Alguien
te rescatará
Para ir cantando

Cantando al
sol

Como la cigarra
Después de un año

Bajo la tierra
Igual que sobreviviente
Que vuelve de la guerra. . .


A Cigarra

Tantas vezes me mataram

Tantas vezes morri

Entretanto estou aqui

Ressuscitando

Graças dou à desgraça

E à mão com punhal

Porque me matou tão mal

E segui cantando

Cantando ao sol

Como a cigarra

Depois de um ano

Debaixo da terra

Como o sobrevivente

Que volta da guerra

Tantas vezes me apagaram

Tantas desapareci

Ao meu próprio enterro fui

e chorando

Fiz um no lenço,

Mas logo esqueci

Não foi a única vez

E segui cantando

Cantando ao sol

Como a cigarra

Depois de um ano

Debaixo da terra

Como o sobrevivente

Que volta da guerra

Tantas vezes te mataram

Tantas ressuscitarás

Quantas noites passará

Desesperando

E à hora do naufrágio

E à da escuridão

Alguém te resgatará

Para ir cantando

Cantando ao sol

Como a cigarra

Depois de um ano

Debaixo da terra

Como o sobrevivente

Que volta da guerra


Maria Helena Walsh