quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ACONTECIMENTOS - Jacques Prévert

Jacques Prévert

ACONTECIMENTOS

(extrato)

(Publicado em Les Cahiers G.L.M. em 1937)

(Tradução de Manuela Torres)

Uf!

não devemos ficar abatidos

temos de resistir

e comer

as moscas chupam

as andorinhas comem os dentes-de-leão

a família come a mortadela

o assassino come um molho de rabanetes

o motorista de táxi, na central dos motoristas,

rua Tolbiac,

come um bife de cavalo

toda a gente come menos os mortos

toda a gente come

os pederastas… as andorinhas

as girafas… os coronéis…

toda a gente come

menos o desempregado

o desempregado não come porque não tem nada para comer

está sentado no passeio

está cansado

esperamuito tempo que as coisas mudem

e começa a estar farto

de súbito levanta-se

e vai-se embora

à procura dos outros

dos outros

dos outros que não comem porque não têm nada para comer

dos outros muito cansados

dos outros sentados no passeio

e que esperam

que esperam que as coisas mudem e que estão fartos

e que vão à procura dos outros

todos os outros

todos os outros fartos e cansados

cansados de esperar

cansados…

Olhem, diz a andorinha aos filhos

são milhares deles

e os passarinhos põem a cabeça fora do ninho

e vêem os homens marchar

Se eles se mantiverem unidos

conseguirão comer

diz a andorinha

mas se se separarem irão morrer

Mantenham-se unidos, homens pobres

mantenham-se unidos,

gritam as pequenas andorinhas.

Mantenham-se unidos,

gritam os passarinhos

alguns homens ouvem-nos

saúdam com o punho

e sorriem.

* * *

Ouf

il ne faut pas se laisser abattre

il faut se soutenir

manger

les mouches lapent

les petits de l’hirondelle mangent le pissenlit

la famille la mortadelle

l’assassin une bote de radis

le chauffeur de taxi au rendez-vous des chauffeurs

rue de Tolbiac

mange une escalope de cheval

tout le monde mange sauf les morts

tout le monde mange

les pédérastes… les hirondelles…

les girafes… les colonels…

tout le monde mange

sauf le chômeur

le chômeur qui ne mange pas parce qu’il n’a rien à manger

il est assis sur le trottoir

il est très fatigué

depuis le temps qu’il attend que ça change

il commence à en avoir assez

soudain il se lève

soudain il s’en va

à la recherche des autres

des autres

des autres qui ne mange pas parce qu’ils n’ont rien à manger

des autres tellement fatigués

des autres assis sur les trottoirs

et qui attendent

qui attendent que ça change et qui en ont assez

et qui s’en vont à la recherche des autres

tous les autres

tous les autres tellement fatigués

fatigués d’attendre

fatigués…

Regardez dit l’hirondelle à ses petits

ils sont des milliers

et les petits passent la tête hors du nid

et regardent les hommes marcher

S’ils restent bien unis ensemble

ils mangeront

dit l’hirondelle

mais s’ils se séparent ils crèveront

Restez ensemble hommes pauvres

restez unis

crient les petits de l’hirondelle

restez ensemble hommes pauvres

restez unis

crient les petits

quelques hommes les entendent

saluent du poing

et sourient.

Jacques Prévert (1937)

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