terça-feira, 25 de setembro de 2012

À ESPERA DOS BÁRBAROS


Konstantinos Kaváfis


À ESPERA DOS BÁRBAROS

O que esperamos na ágora reunidos?
   
         É que os bárbaros chegam  hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam  mais?

          É que os bárbaros chegam  hoje.
          Que leis hão de fazer os senadores?
          Os bárbaros que chegam  as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

            É que os bárbaros chegam  hoje.
            O nosso imperador conta saudar
            o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
            um pergaminho  no qual estão escritos
            muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam  togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos,
de ouro e prata finamente cravejados?

              É que os bárbaros chegam  hoje,
              tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

               É que os bárbaros chegam  hoje
               e aborrecem a rengas, eloquências.
 
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade  nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam  para casa preocupados?
       
                 Porque é noite, os bárbaros não vêm
                 e gente recém-chegada das fronteiras
                 diz que nãomais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.


Konstantinos Kaváfis
trad. José Paulo Paes
Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1982
 

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