segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A OSTRA - João Cabral do Nascimento



João Cabral do Nascimento por Abel Manta

A OSTRA
A ostra, com os peixes conversando,
Não teve mão em si que não dissesse:
-- Que vida preciosa, a minha! Quem merece
mais cuidados do que eu? Sabei que mil fulgores
se me acumulam nas entranhas
crio jóias sem parjóias estranhas…
numa palavra: pérolas, senhores!

O céu, o mar, os astros,
Solícitos, de rastros,
Vêm ofertar-me as suas cores.
Tenho dentro de mim reflexos diamantinos
E cristalinos… argentinos…
Cintilações… lucilações a esmo,
Enfim, é o mesmo
Que dar à luz o Sol! Talvez melhor, a Lua.

-- Ah (um peixe responde), ouvi dizer
Que até te comem crua!

João Cabral do Nascimento


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