segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A MERDA

Hans Magnus Enzensberger


a merda

como se ela tivesse culpa de tudo.
vejam como suave e modesta
ela que se senta debaixo de nós!
porquê conspurcarmos então
o seu bom nome
e o emprestamos
ao presidente dos usa,
aos chuis, à guerra
e ao capitalismo?

que efémera ela é,
e aquilo a que damos o seu nome
que duradouro!
ela, a flexível,
anda na nossa boca
e referimo-nos aos exploradores.
ela, que nós esprememos,
terá agora que exprimir ainda
a nossa raiva?

não nos aliviou?
de mole consistência
e singularmente mansa
é de todas as obras do homem
provavelmente a mais pacífica.

que mal é que ela nos fez?

Hans Magnus Enzensberger
(Poemas Políticos)
Tradução de Almeida Faria
Publicações Dom Quixote, 1975
(original de gedichte 1971)

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