Congresso de um partido que ao longo dos seus 92 anos de existência sempre se afirmou da classe operária e de todos os trabalhadores,
patriótico e internacionalista. Três dias de análise da situação política, do trabalho feito e de propostas para o futuro. Três dias que a intoxicação social vai ignorar o mais que lhe for possível e usar todas as técnicas de que dispõe para enviesar ao máximo a informação sobre o Congresso dos Comunistas.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
O comum da terra - EUGÉNIO DE ANDRADE
O comum da terra
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
EUGÉNIO
DE ANDRADE
in: 12 Poemas para Vasco Gonçalves, Porto, 1977
FANTASMA - Mahmûd Darwîsh
FANTASMA
(para um guarda:) vou-te ensinar a esperar
à porta da minha morte adiada
tem calma, tem calma
talvez te fartes de mim
e tires a tua sombra de cima de mim
e entres na tua noite livre
sem o meu fantasma
Mahmûd Darwîsh
1941-2008 Palestina
Tradução: André
Simões
إلى حارِسٍ: سَأَعْلِّمُكَ الاِنْتِظار
عَلى بابِ مَوتي المُؤجَّل
تَمْهَّلْ، تَمْهَّل
لَعَلَّكَ تَسْأمُ مِنَي
وَتَرْفَعُ ظِلَّكَ عَنّي
وَتَدْخُلُ لَيلَكَ حُرّاً
بِلا شَبَحي
عَلى بابِ مَوتي المُؤجَّل
تَمْهَّلْ، تَمْهَّل
لَعَلَّكَ تَسْأمُ مِنَي
وَتَرْفَعُ ظِلَّكَ عَنّي
وَتَدْخُلُ لَيلَكَ حُرّاً
بِلا شَبَحي
terça-feira, 27 de novembro de 2012
TERAPIA - Mario Benedetti
(papoula)
foto António Flor
TERAPIA
Para no sucumbir
ante la tentación
del precipicio
el mejor tratamiento
es el fornicio
Mario Benedetti
domingo, 25 de novembro de 2012
Najwân Darwish
um pouco de jazz
ó tu, cônsul negro de uma civilização branca como uma mortalha
ó tu, cônsul branco de uma civilização de carvão
haverá uma cor terceira com quem eu possa falar?
ou devemos implorar-te, como criadas bem educadas, para nos permitires viajarmos,
o que fazer para que te agradem estas caras que o Senhor traçou?
ou dançaremos nós diante das embaixadas a noite toda, acenderemos nós um fogo à maneira das tribus zulu?
ou quereis que nos deitemos com as vossas velhas para provarmos as nossas boas intenções?
ou assinamos os contratos de inocência da História
ou desinfectamos a memória com Dettol
ou queimamos o livro “Orientalismo” e as nossas mães “atrasadas” – com gasolina – e rimos.
ou tocamos um pouco de jazz para a tua mulher?
ó tu, cônsul
as nossas caras derreteram e nós para cá e para lá e estamos perante os teus olhos perscrutadores e as tuas experientes secretárias, mais excelentes que cães-polícia...
estas caras cujos traços apagastes com as vossas tendências experimentais perseguir-vos-ão em pesadelos durante sete gerações pelo menos
ó tu, cônsul
este poema perseguir-te-á a ti em particular.
Najwân Darwish
Tradução do árabe: André
Simões
sábado, 24 de novembro de 2012
XII - Candidatos Hereges
Guia para candidatos aos infernos
Santana Lopes, Bosco Amaral, Dias Loureiro, Miguel Relvas, Luís
Arnaut e…
XII - Candidatos
Hereges
Ser herege é ter de escolher, custe o que custar.
Não pensamos o que querem obrigar-nos a pensar,
Não fazemos o que esperam obrigar-nos a fazer.
Mas quem escreveria hoje Os Heróicos Furores?
Quem enfrentaria a fogueira do Campo dei Fiori
Como o homem de Nola? Quem estaria disposto
A ser representado de olhos esbugalhados, cara
De pernas para o ar e orelhas no pescoço monstruoso?
Quem estaria pronto a morrer como Julião ainda jovem?
Quem correria hoje o risco de ser morto como um cão,
Na prisão, num descampado, numa esquina anónima?
Sabemos que a mesa mais venenosa é a Mesa Censória,
Aquela que usa o seu poder para definir o que é háiresis,
Tentação diabólica, coisa de orgulhosos e heterodoxos.
A fossa do sexto círculo é melhor e mais espaçosa
Que a estreiteza dos Bempenteadinhos que decidem
Quem é herético ou herética: os que ardem depressa.
Não pensamos o que querem obrigar-nos a pensar,
Não fazemos o que esperam obrigar-nos a fazer.
Mas quem escreveria hoje Os Heróicos Furores?
Quem enfrentaria a fogueira do Campo dei Fiori
Como o homem de Nola? Quem estaria disposto
A ser representado de olhos esbugalhados, cara
De pernas para o ar e orelhas no pescoço monstruoso?
Quem estaria pronto a morrer como Julião ainda jovem?
Quem correria hoje o risco de ser morto como um cão,
Na prisão, num descampado, numa esquina anónima?
Sabemos que a mesa mais venenosa é a Mesa Censória,
Aquela que usa o seu poder para definir o que é háiresis,
Tentação diabólica, coisa de orgulhosos e heterodoxos.
A fossa do sexto círculo é melhor e mais espaçosa
Que a estreiteza dos Bempenteadinhos que decidem
Quem é herético ou herética: os que ardem depressa.
Almeida Faria
(Que a contragosto misturo com esta gente)
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Confissão de um terrorista!
Nem todo o povo de Israel é nazissionista
nem todos os judeus são culpados
mas no ensurdecedor silêncio que manifestam
ouve-se
a conivência criminosa
Confissão de um terrorista!
Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista
Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista
Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista
Assassinaram minhas alegrias,
Sequestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
Eles... mataram um terrorista!
Mahmoud Darwich
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
MAHMOUD DARWISH - GAZA
Mahmoud Darwish
Efémeros em palavras efémeras1.
Vocês que passam com palavras efémeras,
levem seus nomes e vão embora
tirem suas horas do nosso tempo e vão embora
roubem à vontade do azul do mar e das areias da lembrança
tirem fotos à vontade, e assim vão saber
que não hão de saber
como uma pedra da nossa terra constrói o teto do céu.
2.
Vocês que passam com palavras efémeras
de vocês vem espada, de nós vem nosso sangue
de vocês vêm fogo e aço, de nós vem nossa carne
de vocês vem outro tanque, de nós vem pedra
de vocês vem a bomba de gás, de nós vem chuva.
Um mesmo céu e um mesmo ar nos cobre
peguem seu quinhão do nosso sangue, mas vão embora
entrem no jantar dançante, mas vão embora
temos que zelar pela rosa dos mártires
temos que viver como a gente quer!
3.
Vocês que passam com palavras efémeras,
como a poeira amarga, passem onde quiserem, mas
não passem entre nós como insetos com asas
temos o que fazer na nossa terra
temos trigo a criar e regar com o orvalho do nosso corpo
temos o que a vocês aqui não agrada:
temos pedra... e perdiz!
Levem o passado, se quiserem, ao mercado das quinquilharias
devolvam, se quiserem, o esqueleto do passarinho ao prato de porcelana.
Temos o que não lhes agrada: temos o futuro
temos o que fazer na nossa terra.
4.
Vocês que passam com palavras efémeras,
soquem seus dramas num buraco abandonado e vão embora
voltem atrás o ponteiro do tempo até o bezerro sagrado
ou até o disparo ritmado do revólver!
Temos o que a vocês aqui não agrada, então vão embora
temos o que por dentro vocês não têm:
uma pátria que jorra um povo que jorra uma pátria
que combina com esquecer e lembrar.
Vocês que passam com palavras efémeras,
é hora de irem embora
de morarem onde quiserem, mas não entre nós
é hora de irem embora
de morrerem onde quiserem, mas não entre nós
temos o que fazer na nossa terra
aqui temos o passado
temos a primeira voz de vida
temos o presente, o presente e o que está por vir
temos o mundo aqui e temos a outra vida
saiam da nossa terra, do nosso deserto, do nosso mar
saiam do nosso trigo, do nosso sal, da nossa ferida
de tudo
saiam das lembranças da nossa memória,
vocês que passam com palavras efémeras.
(para ver e ouvir Mahmoud Darwish)
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