sexta-feira, 29 de março de 2013

PATER NOSTER - Jacques Prévert


Jacques Prévert
PAI-NOSSO

Pai-Nosso, que estais no céu

Deixai-vos aí ficar

E nós ficaremos cá na terra

Que às vezes é linda de pasmar

Com os seus mistérios de Nova Iorque

E os seus mistérios de Paris

Que são tão bons como o da Trindade

Com o seu Regueirão dos Anjos

A sua Grande Muralha da China

A sua ria de Aveiro

As suas queijadinhas de Tomar

Com o seu oceano Pacífico

E os dois lagos do jardim das tulherias

Com o bom filho e a má rês

Com todas as maravilhas do mundo

Que aqui estão

À face da terra simplesmente

Oferecendo-se a todos

Disseminadas

E tão maravilhadas por se descobrirem tão maravilhosas

E não ousando admiti-lo

Como uma bela rapariga nua que não ousa mostrar-se

Com as desgraças deste mundo cão

Que são legião

Com os seus legionários

Com os seus tornionários

Com os senhores da terra

Com os seus mercenários seus traidores e seus vigários

Com os anos

E as estações

Com as raparigas bonitas e os velhos vilões

E com a palha da miséria a apodrecer no aço dos canhões.


PATER NOSTER

Notre Père qui êtes aux cieux
Restez-y
Et nous nous resterons sur la terre
Qui est quelquefois si jolie
Avec ses mystères de New York
Et puis ses mystères de Paris
Qui valent bien celui de la Trinité
Avec son petit canal de l’Ourcq
Sa grande muraille de Chine
Sa rivière de Morlaix
Ses bêtises de Cambrai
Avec son océan Pacifique
Et ses deux bassins aux tuileries
Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets
Avec toutes les merveilles du monde
Qui sont là
Simplement sur la terre
Offertes à tout le monde
Eparpillées
Emerveillées elles-mêmes d’être de telles merveilles
Et qui n’osent se l’avouer
Comme une jolie fille nue qui n’ose se montrer
Avec les épouvantables malheurs du monde
Qui sont légion
Avec leurs légionnaires
Avec leurs tortionnaires
Avec les maîtres de ce monde
Les maîtres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs reîtres
Avec les saisons
Avec les années
Avec les jolies filles et avec les vieux cons
Avec la paille de la misère pourrissant dans l’acier des canons.

Jacques Prévert

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Há orações a merecerem ser oradas...