terça-feira, 9 de abril de 2013

Dez reis de esperança

Dez reis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a
um canto,
no
mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o
que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo
adolescente,
a
chuva das penas brancas
a
cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da
vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos
homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e
não perceberam,
essas
máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no
pranto do desencanto,
se
não fosse a fome e a sede
dessa
humanidade exangue,
roía as
unhas e os dedos
até os fazer em sangue

António Gedeão

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Se não fosse esta certeza...